Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Trova do vento que passa, Manuel Alegre
Abril começa com as mentiras. Diz a wikipédia que na primeira metade do século XVI e o Ano Novo era festejado a 25 de março, segundo o calendário juliano, data que assinalava o início da primavera, as festas duravam até 1 de abril. Em 1564, após a adopção do calendário gregoriano, Carlos IX, de França, determinou que a celebração do novo ano passava para 1 de janeiro. Os franceses resistiram e continuaram a seguir o calendário antigo. Ridicularizando a mudança passaram a enviar presentes esquisitos e convites para festas que não existiam. Essas brincadeiras ficaram conhecidas como plaisanteries (piadas).
Poderá ser esta a origem ou não para o caso pouco importa. 1 de Abril é assumido como o dia das mentiras em vários países. Os jornais e canais noticiosos portugueses tinham (têm) por hábito divulgar uma notícia falsa, com ares de verídica. Não vamos fazer isso no abarca.
A verdade das mentiras com que somos diariamente intoxicados chegam. Mas “há sempre alguém que diz não”.
Nesta edição falamos de Abril, 49 anos depois da Revolução dos Cravos. Falamos de ciganos, a propósito de 8 de abril, Dia Internacional da Pessoa Cigana, reconhecido pela Organização das Nações Unidas, desde 1971. E a este propósito recordo-me sempre da “Canção do Cigano”, cantado por Alberto Ribeiro e Tonicha (tudo muito antigo) e de uma estrofe que me continua a arrepiar: “Não há maior desengano / Nem vida que dê mais pena / Do que a vida de um cigano / Atravessar a fronteira / Para ser atravessado / Por uma bala certeira / E tudo porque o destino / Só fez dele um peregrino / Companheiro do luar / Um pobre judeu errante / Que não tem pátria nem lar”.
As caravanas já não são vistas com a mesma frequência na planície alentejana, mas “os filhos do vento” conservam a sua cultura, muito pouco aceite pelos países de que são naturais há gerações.
Não ficamos por aqui. A edição deste mês publica a experiência de Augusto Gaspar, no socorro às vítimas na Turquia após o terramoto e a menina que luta pela vida. A caça à multa por mau estacionamento em Alcanena ou uma reportagem sobre a Quinta da Broa.
Falamos de Carlos Saramago, o pintor maçaense recentemente falecido, que a autarquia soube homenagear. Sensibilidade não extensível a todas as autarquias da região do abarca (vide entrevista a António Carvalho, publicada na anterior edição).
Por último, recordamos Armando Fernandes editando a sua primeira crónica neste jornal e uma entrevista que nos deu em dezembro de 2017 sobre os comeres de Natal, mas muito mais. É com dor que nos despedimos e retiramos o seu nome dos nossos cronistas. (Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não).