Nunca na minha vida de trabalhador aderi a greves. Não admira, porque nasci e vivi no Estado Novo até aos 46 anos e, em 1974, eu já não acreditava muito na “democracia socialista” que se anunciava com a revolução.
Com a agonia e morte da MDF, tive que deixar Tramagal para ganhar dinheiro que ajudasse a manter a família nessa altura já enriquecida com 4 rapazes e 3 raparigas. Valeu-nos uma amizade, que felizmente perdura, de um engenheiro que me abriu as portas da INDEP, uma empresa do Estado que fabricava armas ligeiras e munições para vender ao Irão e ao Iraque, nessa altura em guerra.
Para colmatar a minha ignorância do “b a, ba” da política e poder enfrentar as comissões de trabalhadores, comunistas, que faziam o seu papel no PREC, filiei-me na FDT. Uma organização financiada pela Fundação Conrad Adenauer, FDT que depois se apagou, julgo eu para a fundação alemã apoiar o CDS. Lembro-me de que uma das lutas que a FDT tinha como bandeira era “o direito à greve pelos funcionários públicos”. Achei estranho os funcionários públicos terem que lutar pelo direito à greve. Na Alemanha fazia sentido? Era só receio da FDT de que isso fosse previsível no Portugal em construção? Agora pouco interessa. A vida foi-me moldando o pensar e o sentir e hoje já não tenho dúvidas: as greves que afectem serviços prestados pelo Estado na Saúde, na Justiça, na Educação, nas Finanças nos Transportes e na Assistência Social devem ser substituídas por outras formas de luta.
Quem me conhece, ou julga conhecer pelo que escrevo, já estará a pensar“Lá está o tipo a ter saudades do tempo em que não havia greves...” Confesso que tenho saudades, mas só quando comparo o Estado Novo com o estado a que ISTO chegou... não por causa das greves.
O movimento grevista é um fenómeno social muito recente na história da humanidade. Terá nascido com a Revolução Industrial, no século XIX, principalmemte nos Estados Unidos e na Inglaterra, os primeiros.países a industrializarem-se e onde os trabalhadores, sem leis que os protegessem, reagiram com greves à exploração dos patrões, traduzida em baixos salários, duração e condições de trabalho desumanas e sem garantias de sobrevivência quando deixassem de poder trabalhar. Foi, também, por estas alturas que os patrões “descobriram” o Futebol para entreterem e apaziguarem a classe operária...
Também nasceram então os sindicatos para organizarem as lutas e ganharem peso na defesa das leis que iam aparecendo para proteger os trabalhadores.
Os patrões, há 100 anos, sentiam directa e rapidamente que as greves lhes roubavam lucros porque, não produzindo, a fábrica não podia vender e não vendendo o suficiente não entrava dinheiro para suportar os custos e ter margens de lucro que lhes permitissem ganhar dinheiro.
Hoje, o que vemos é serem “patrões” dos “funcionários públicos” os membros dos governos. São eles, em última instância, quem os emprega e desemprega, quem lhes paga, quem os organiza e dirige. Com uma assinalável diferença: o dinheiro com que gerem o Estado, não é deles, não lhes doe se a População for mal servida.
Dir-me-ão os políticos profissionais em regimes mais ou menos democráticos: “Nós somos julgados em eleições onde a população nos pode premiar ou castigar... “ Digo eu, com algum cinismo,”Se mantiverem o Povo ignorante e o enganarem com Propaganda semelhante à de Goebells, podem ganhar novamente eleições, talvez com maiorias absolutas, e voltar a desgovernar o País.
Haja quem procure uma alternativa a estas greves que só servem para mais empobrecer Portugal, amargurar e complicar a vida do Povo e desviar o seu azedume dos membros do governo para os trabalhadores em greve.
Atendendo aos malefícios da hegemonia da “partidarite” e do facto de uma das clivagens que nos dividem ser uns quererem mais Estado, outros menos Estado, arrisco uma sugestão:.
“Emendar a Constituição para que nela conste um referendo, promovido pelo PR, em que se pergunte ao eleitorado se está satisfeito com o Governo.
Se houver uma abstenção superior a 60 % ou um “NÃO” superior a 50 % o Presidente da República formará um Governo de Salvação Nacional, que dentro de determinado período, poderá usar todos os recursos disponíveis, do Estado e de particulares, para satisfazer as necessidades prementes”.