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17 ABR 2023
OPINIÃO | "Palavras Proibidas", por Humberto Lopes
Por Jornal Abarca

Nasci, como já algumas vezes escrevi, tinha a segunda guerra mundial pouco mais de um ano.

Em Portugal viviam-se anos de ditadura que oscilava entre os dois blocos em luta. A palavra de ordem era que não entrássemos nessa guerra que duraria ainda alguns anos.

Como sempre acontece quando há guerras, a informação é truncada, quer de um lado, quer do outro. Para isso controlam-se os órgãos de informação a par de forças policiais que vigiam a população.

Mas, na altura e durante muitos anos, a informação e a opinião manifestada na palavra e na escrita foram objecto de censura prévia. Jornais e livros, a publicar, tinham que ir à comissão de censura e, se esta assim o entendesse, eram eliminados artigos ou parte de artigos e, quanto aos livros, era-lhes aposto o carimbo de “Proibido”. Assim, durante quase cinquenta anos, se tentou controlar a mente dos portugueses. E não era necessário que as publicações, jornais ou livros, fossem apenas portuguesas, pois as que vinham de fora eram sujeitas ao mesmo crivo.

A guerra de 1961 a 1974 que enfrentámos em África nunca foi objectivamente conhecida na então chamada metrópole. Só os que por lá passaram têm ideia, mais ou menos objectiva, do que se passou e só durante o tempo em que lá estiveram e nas respectivas zonas de intervenção.

Com o 25 de Abril de 1974 veio o fim da censura e a liberdade que nos permite ter acesso a informação fidedigna e a literatura original, sem cortes e sem alterações impostas por quem acha ter direito ao controlo das mentes dos outros.

É curioso verificarmos, por exemplo na literatura proibida, as razões pelas quais não se podia ler! Bastava que o tema tivesse a ver com a exploração do homem pelo homem, que o tema tivesse a ver com sexo, tivesse a ver com ideias ditas revolucionárias para que fosse proibido.

Algumas palavras, a descrição de algumas cenas, falar de “escravatura humana” que ainda existia e existe e “o caldo estava entornado”.

Tempos que fazem parte de um passado que era de todo conveniente mostrar às gerações actuais para que, ao tomarem dele conhecimento, o repudiassem firmemente porque não estamos livres de que esses tempos não voltem! Infelizmente continuam a proliferar ideologias que pretendem controlar o cidadão em todos os aspectos da sua vida. Aquilo a que dão o nome de “liberdade” não é mais do que cada um seguir a “cartilha” dessa ideologia. Isto, como agora se diz, quer à direita, quer à esquerda. O controlo do cidadão é objecto de muita atenção por quem quer “dominar”, fazendo da democracia apenas o chavão para convencer incautos.

A liberdade individual corre sérios riscos nos tempos que correm e depois de termos recebido, de braços abertos, a democracia após a Revolução dos Cravos.

Já assistimos ao pedido de desculpas por nos termos, a partir do século XV, aventurado aos mares em busca de outros mundos não conhecidos. Isto porque “colonizámos” povos e regiões tirando proveito das suas riquezas e tentando destruir as suas culturas. A pensarmos assim julgo sermos merecedores das desculpas dos que invadiram este pequeno território que é Portugal. E falo apenas de romanos, árabes e até franceses! Para quando o pedido de desculpas aos portugueses por nos terem invadido e saqueado?

Há toda uma nova cultura “pós-moderna” que procura a todo o custo mudar o passado. Mas, o passado é passado, não volta e o que está feito está feito.

Assim, também actualmente, parece que está a surgir uma nova censura ao que se escreve, ao que se diz, em nome de não ofender outros, em nome de uma cultura de preservação da inocência dos que hão-de ser os homens de amanhã.

Há, para já, apenas palavras proibidas!

Feio, feia, gordo, gorda, cigano, cigana, preto, preta, branco, branca, chinês, indiano, mulato, mulata, etc.…, são já vocábulos proibidos em nome da não discriminação!

Isto para além dos chamados palavrões que só no futebol são permitidos!!!

Para onde caminhamos com estes novos actos censórios?

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