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17 ABR 2023
OPINIÃO | "Novas tensões no Médio Oriente", por Nuno Alves
Por Jornal Abarca

As relações entre o Irão e a Arábia Saudita conheceram melhorias substanciais nas últimas semanas, após um acordo político mediado pela China. O acordo prevê a reposição das relações diplomáticas entre os dois países, depois de, em 2016, a Arábia Saudita ter encerrado o contacto com Teerão. Nas últimas décadas, os dois países tem sido o centro da rivalidade xiita e sunita na região. Esta rivalidade tem alimentado um estado de conflito endémico na região, centrado mais recentemente nas guerras civis na Síria e no Iémen. Contudo, a possibilidade de uma normalização das relações diplomáticas entre os dois países não deixa a região na expectativa de uma progressiva estabilidade.

Mais a norte, a confrontação entre o Azerbeijão e o Irão é cada vez mais palpável. Os dois países têm vindo a deteriorar as suas relações políticas devido áquilo a que ambos consideram provocações mútuas. Para além dos exercícios militares que ambos os exércitos têm conduzido junto à fronteira, as autoridades azeris detiveram vários manifestantes de origem iraniana acusados de radicalismo religioso; por seu turno, o governo iraniano tem alertado Baku para não incitar a significativa minoria azeri existente no Irão, especialmente numa altura em que o regime dos Ayatollahs enfrenta fortes convulsões internas e manifestações que têm minado a estabilidade interna do país. Contudo, na raiz da questão está o grande jogo geopolítico na região.

O Irão pretende estender a sua influência a norte, para o Cáucaso, onde a Turquia tem dominado durante décadas. E, para conseguir isso, tem reforçado o apoio militar à Arménia, no confronto que a opõe ao Azerbeijão, em torno da região do Nagorno Karabach. Para Teerão, o Azerbeijão é uma pedra no sapato das suas ambições geopolíticas para a região, mas também para as suas preocupações securitárias. A recente vitória conseguida pelo Azerbeijão na guerra de 2020 contra a Arménia deveu-se sobretudo ao apoio militar providenciado pela Turquia e, curiosamente, também por Israel. Para a Turquia, o povo azeri é etnicamente como um povo irmão, com laços culturais e linguísticos muito próximos do povo turco. Já Israel tem reforçado as suas relações diplomáticas com o Azerbeijão, de forma a quebrar o seu isolamento regional, e providenciou armamento determinante para a vitória azeri de há três anos. Para Teerão, este triângulo geopolítico formado pelo Azerbeijão, Turquia e Israel representa um risco imediato à sua segurança interna e aos seus interesses para a região. Ao mesmo tempo, perante o estado de revolta interna que tem caracterizado a política iraniana no últimos meses, Teerão procura agora maximizar as suas tensões com o Azerbeijão, de forma a distrair a opinião pública interna com o perigoso e provocador vizinho a norte. 

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