Não é nenhuma capicua, nem combinei com o Ricardo escrever sobre inteligência artificial (IA).
Sem conhecimentos científicos, mas com verdadeiro temor de que máquinas se transformem em “humanos”. Fico apavorada. Se sinto horror quando oiço os profissionais da guerra falarem de estratégicas bélicas, como se se referissem a um jogo de tabuleiro, fico igualmente horrorizada quando a ciência tem como único objectivo a própria ciência, subvertendo a sua própria essência: o bem da humanidade. Esta é a minha visão romântica da vida.
Lembro-me de ler quando era adolescente, o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, publicado em 1932, e de ficar incrédula com a desumanização dos seres humanos.
Lembro-me, mais crescida de assistir ao filme “Jonas que terá 25 anos no ano 2000”, de Alain Tanner. E também me lembro de até 2000 ver na garrafeira do meu pai, uma garrafa verde escura sem rótulos apelativos. Era de armagnac(armanhaque) e foi aberta na passagem do milénio. Lembro-me do meu pai dizer: “Nunca pensei chegar ao ano 2000, hoje abrimos a garrafa”. Ele tinha a comprado ainda rapazola numa viagem que vez com Manuel Vieira (“Manel Velho”), um dos fundadores da fábrica de álcool de Lapas e amigo de família.
O “Admirável Mundo Novo” está velho e caduco, Jonas está quase cinquentão e o armagnac foi bebido com grande parcimónia, mas inevitavelmente chegou ao fim há anos.
Este continua a ser o meu tempo porque nele vivo, mas nele perdeu-se muito do que adquiri. Não acredito na ciência pela ciência, nas tecnologias pelas tecnologias…
Nunca fomos tão dependentes. Se há uma falha de energia, pára tudo. Sempre vivi com electricidade, então fornecida pela Central Eléctrica instalada em Torres Novas. Lembro-me das quebras normais, principalmente em tempo invernoso. Caçoávamos dizendo “lá passou outra enguia no Almonda”. E a vida continuava. Hoje o telemóvel faz parte da minha indumentária, a internet está sempre ligada e se algumas destas máquinas avaria fico sem chão e pareço uma barata tonta.
Mas pior do que tudo é criar máquinas que, sem ADN (presumo eu), podem pensar e tomar decisões autónomas do seu criador.
Não quero voltar para trás, além da impossibilidade seria uma estupidez, mas como dizia o dr. João Carvalho (que muitos da região conhecem e podem testemunhar o saber do seu bisturi) “até a água quando é excesso faz mal”. E o nosso corpo, segundo o dr. Google, é formado por 55 a 60 por cento de água.