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22 MAI 2023
OPINIÃO | "Uma Luta Inglória", por Alice Vieira
Por Jornal Abarca

Eu sei que isto de que vou falar hoje é uma luta de há muitos anos e inglória… Mas, pelo amor de Deus,  tirem lá o “você” da vossa língua!! Cuspam-no como se se tratasse de um veneno. Claro que se forem brasileiros a questão não se põe. O brasileiro é uma variante do português, ninguém trata ninguém por “tu” mas sim por “você”, e há palavras que eles dizem e nós não dizemos e vice versa: por exemplo, nunca se lembrem de chamar a uma jovem brasileira “rapariga”, e nunca se assustem se os brasileiros vos disserem que vos vão encher de “balas”.

Portanto fica assente que este terrível “você” de que falamos é aquele disparate que sai da boca de alguns (muitos!) de nós.

Desde muito pequena que oiço dizer que “você é estrebaria” (sem insulto).

Aqui há dias a apresentadora do programa de televisão “Estrelas ao Sábado” dizia para aí vinte “vocês” entre três palavras. “Vocês” para os espectadores, “vocês” para os artistas, “vocês” para o público que entrevistava (muitos com idade para serem pais dela…). Até há na RTP um programa chamado “Você na TV” (facílimo substituir o título…)

E há tantas maneiras de dizer o mesmo… Se sabemos o nome das pessoas, tratamo-las pelo nome (com “Dona” ou sem “Dona”, conforme a familiaridade) se não sabemos tratamos por “Senhora” ou “Menina”, conforme a idade.

Aqui há uns tempos estava eu a tomar café no Corte Inglês (passe a publicidade…) e um dos empregados chegou ao pé de mim e perguntou-me:

“O que é que você vai querer?

Eu chamei-o mais para ao pé de mim e disse-lhe baixinho:

“Não me chame “você”! Aqui todos sabem o meu nom e, mas pode chamar-me por “senhora, por exemplo”

Dias depois voltei lá, e veio o mesmo empregado, todo sorridente:

“Então, minha querida, o que vai ser?”

Eu ri e disse “assim também gosto!”

E pronto, o “você” desapareceu.

Aqui na Ericeira nunca me lembro de alguém alguma vez me ter tratado por você…

É quase sempre “ó vizinha!” (mesmo quando eu nem as conheço…) ou então “menina Alice”.

E agora livrem-se de, depois de lerem isto, se virarem para os amigos a dizer “vocês têm de ler isto”.

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