Com a pandemia do COVID 19 o país parece que de repente acordou para a realidade cruel e vergonhosa dos nossos idosos. Foi preciso a pandemia para se aperceberem que a maioria dos idosos se encontravam abandonados em lares contra a sua vontade, como se fossem criminosos. Após a pandemia o assunto voltou ao esquecimento. Predomina o velho ditado “o que os olhos não vêm o coração não sente”. Nos últimos dias voltamos a ser lembrados pela comunicação social que os problemas se mantêm. Praticamente todos os dias é notícia nos telejornais a descoberta de depósitos imundos, que chamam de lar ilegal. E claro, mais uma vez o assunto não passará de uma notícia triste que nos indigna no momento, mas infelizmente somente isso. Atualmente Portugal é considerado o 3.º país mais envelhecido da Europa, e o 5º país mais envelhecidos do mundo e tudo aponta para continuar a subir no ranking.
Também se voltou a utilizar com frequência a palavra idadismo, discriminação com base na idade. Perante o abandono dos nossos idosos pelos seus familiares que os consideram fardos e descartáveis, o que fazemos? Nada. Embora o artigo 72.º da Constituição seja claro “As pessoas idosas têm direito à segurança económica e a condições de habitação e convívio familiar e comunitário que respeitem a sua autonomia pessoal e evitem e superem o isolamento ou a marginalização social.” Já todos sabemos que com o Estado os nossos idosos também não podem contar, pois há muito que se descartou das suas obrigações e delegou nas suas famílias e nas IPSS´s, essa responsabilidade. Para o Estado os idosos não interessam, não votam. Os lares ilegais proliferam, depois de muitas denúncias as autoridades fecham um, mas de seguida abrem três, consequência não existem. O crime compensa.
Segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) em 2021, foram registados por esta associação 1.594 casos de violência contra idosos, o que significa que quatro pessoas idosas por dia tiveram a coragem de apresentar queixa. Imaginemos quantas mais também o desejariam fazer, mas por várias circunstâncias não o conseguem fazer. A vitimização é continuada e nem sempre dá origem a queixa refere a APAV. De 904 vítimas inquiridas em 2020 pela APAV, 74 encontravam-se na situação de vítima há mais de 40 anos. Sendo a residência comum o local mais escolhido para a ocorrência dos crimes.
Segundo a Polícia de Segurança Pública e a Guarda Nacional Republicana, as queixas contra idosos continuam a aumentar. Perante os factos continuaremos a permitir que os nossos idosos continuem a ser vítimas de maus-tratos? A pandemia já lá vai e nada mudou. Os nossos idosos não têm poder de reivindicação, não vão para a rua, não votam. Que façamos nós, sociedade, o que tem de ser feito. Não basta envergonharmo-nos quando passam as notícias na televisão, mas sim agir e exigir melhores condições de vida para os nossos idosos. Discriminação é crime, os criminosos devem ser punidos severamente, enquanto tal não acontecer, os nossos idosos continuarão a ser negligenciados.