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19 JUN 2023
OPINIÃO | "O Movimento Estudantil abrantino: factos e controvérsias", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

Nas últimas semanas foram inúmeros os contactos que fiz entre abrantinos da minha geração, para consolidar as informações e as ideias sobre o “Movimento Estudantil de Renovação Cultural e Solidariedade Estudantil” (MSERC) surgido em Abrantes entre 1969-1970 (a que dediquei a minha última crónica aqui no abarca) e que está hoje totalmente no esquecimento - apesar da sua inegável importância para a história da cidade e da evolução de muitos jovens que nele participaram..

De seguida e sem mais delongas (que talvez até se justificassem) irei elencar um conjunto de factos sobre o Movimento Estudantil e que contêm matéria mais do que suficiente para interessar os abrantinos:

a) Embora se tratasse de um movimento de jovens, o movimento teve a participação de muitos adultos, ligados à Igreja abrantina e não só. Desses adultos o que mais se destacou na colaboração com os estudantes foi a D. Maria Justina Bairrão Oleiro (sobre quem já aqui escrevi) e a quem é dedicado um parágrafo muito expressivo no Manifesto que lançou o Movimento;

b) No “MSERC” participaram estudantes de todos os estabelecimentos de ensino da cidade e também estudantes que se encontravam nas universidades em Lisboa e Coimbra; a participação das estudantes do Nossa Senhora de Fátima foi a mais difícil de concretizar, tendo sido muito difícil obter a concordância das religiosas (um papel significativo na inversão da decisão inicial de não permitir a participação do colégio foi desempenhado por algumas mães de alunas, com destaque para a D. Maria da Luz Semedo que intercedeu activamente junto das religiosas em particular da Madre Alpuim então subdirectora do Colégio, a pedido da D. Maria Justina Bairrão Oleiro).

c) As reuniões do “MSERC” (que eram designadas como “Convívios”) tinham lugar na Assembleia de Abrantes, que cedia as instalações para esse efeito e ocorreram durante vários meses entre finais de 1969 e meados de 1970); para equilibrar as tensões, com as forças mais conservadoras da cidade, que resultavam dessa realização tão anómala para os padrões sociais de então neles participavam também alguns adultos;

d) Nos convívios eram discutidas questões de interesse geral para a juventude: primeiro em pequenos grupos e depois numa reunião magna de participação geral (infelizmente não tenho memória desses temas; a não ser daquele que também esteve na origem do fim repentino Movimento, como veremos mais tarde);

e) O “MSERC” criou um jornal: o “Hexágono” (o nome remetia para cinco estabelecimentos de ensino cujos estudantes integravam o Movimento referidos mais atrás). O jornal nunca chegou a ser editado existindo apenas uma maquete elaborada pelo Mário Rui Cordeiro. A história do “Hexágono” e o modo como a maquete do jornal sobreviveu à investida da PIDE para o retirar de circulação é tão curiosa que merecerá uma crónica nesta série;

f) É importante notar que, apesar de todas as limitações existentes e do medo que existia dos informadores e da PIDE todos os máximos decisores dos quatro estabelecimentos de ensino da cidade se comprometeram com o “MSERC” autorizando a divulgação do mesmo nesses estabelecimento.

Penso que nesta crónica deixei elementos suficientes sobre o “MSERC” que provam a sua importância numa cidade que era então muito fechada e socialmente em evolução acelerada. Na próxima crónica escreverei sobre o fim do “MSERC” e o que dele ficou para o futuro: já que, inequivocamente, Abrantes (a cidade e a sua juventude) nunca mais foi a mesma cidade: não só devido ao “MSERC”, mas muito também por causa dele.   

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