Não existirá ser, humano pelo menos, que não fique maravilhado ao olhar o céu, em noites sem luar e locais afastados da poluição luminosa noturna. A sensação é de nos encontrarmos no centro de uma gigantesca esfera que parece salpicada de pontos luminosos, aparentemente situados à mesma distância do ponto central da esfera, que, na verdade, corresponde à posição da nossa cabeça.
No entanto, esta sensação de ocuparmos o centro da esfera celeste, facilmente se revelará como ilusão se, por exemplo, pudéssemos perguntar a um dos astronautas que já esteve na Lua, como via ele o “céu” quando lá se encontrava. A resposta seria pronta de que “via” também uma esfera, facto que nos poderia levar a pensar que, muito provavelmente, alguém que se disponha, nos próximos anos, a viajar até Marte, uma vez chegado lá, terá também a ilusão de se encontrar “no centro de uma esfera”. Se esta realidade parece fácil de aceitar, o mesmo não sucede com uma desejável explicação, a qual, apesar de frequente, não deixa completamente confiante quem sinta vontade de saber: “na verdade não existe esfera, só que, por os pontos luminosos que salpicam o céu se encontrarem extraordinariamente longe de nós, parecem todos à mesma distância. Como nos habituámos a conceber uma esfera como um conjunto de inúmeros pontos situados (todos) à mesma distância do centro, a nossa cabeça (onde se situam os olhos) “vê” uma esfera, estejamos nós em Portugal, na Antártida, na Lua ou em Marte”, independentemente da direção da “esfera celeste” para onde olharmos.
No entanto, desde há séculos que se sabe que, não só os pontos luminosos – as estrelas – se encontram a distâncias diversas, como também se sabe que, para lá das que vemos, muitas outras existem, aos milhões e milhões que, agrupando-se numa espécie de “ilhas de estrelas”, formando as galáxias, os fundamentais aglomerados de matéria que constituem o Universo. E essas, as galáxias, também se distribuem pelo espaço, a distâncias tão diversas e elevadas que, não só não poderão constituir uma esfera como nos seria muito difícil representar - em milhões ou biliões de quilómetros - as distâncias a que se encontram de nós! Nem mesmo uma unidade de distância que os astrónomos criaram - baseada na distância percorrida por um raio de luz durante um ano, sempre à velocidade de trezentos mil quilómetros por segundo – a que chamaram ano-luz, é muito cómoda para citar a quantos anos-luz se encontram as galáxias mais distantes que atualmente podemos estudar. A partir da Terra, já fomos capazes de registar imagens de milhares de galáxias em (quase) todas as direções da esfera celeste e temos razões científicas para estimar que o seu número será de muitos milhões, como muitos milhares de milhão serão as estrelas que compõem cada uma. As galáxias – por se encontrarem muito distantes – parecem-nos apenas uns borrões com aspetos mais ou menos interessantes, pelo que não conseguimos identificar pontos luminosos correspondentes às estrelas que lhes pertencem. No entanto, a convicção de que, de vez em quando, uma estrela explode na sua galáxia-mãe (estima-se que, numa galáxia, isso possa acontecer uma vez por século), a ciência moderna como que vigia as galáxias mais próximas (através de telescópios), na expetativa de detetar um desses acontecimentos cósmicos – a explosão de uma estrela - que, durante algum tempo, aumenta extraordinariamente o seu brilho, tornando-se num ponto luminoso bem evidente, no habitual “borrão” que a galáxia nos parece. Tal acontecimento, a que modernamente chamamos “supernova” - termo ilusório, resultante de, na época em que foi observado pela primeira vez, nos finais do século dezasseis, se ter admitido tratar-se do “nascimento” de uma estrela muito mais brilhante do que as outras – constitui sempre desafios para desenvolver tecnologias que facilitem o aprofundamento de estudos sobre fenómenos associados à explosão, à causa e aos efeitos, em particular algumas radiações que chegam à Terra e mesmo à produção de elementos químicos, alguns dos quais (tem-se como certo) intervieram no aparecimento e evolução da vida na Terra e noutros lugares distantes, no Universo.
Em meados do passado mês de maio um astrónomo japonês que vigiava uma das várias galáxias que se avistam na direção da constelação da Ursa Maior, descobriu um dos tais pontos brilhantes e anunciou a ocorrência de uma “supernova” na M101 (o objeto número 101 do catálogo elaborado por Charles Messier) a que os astrónomos também chamam “Catavento”, dado o seu aspeto. Na verdade, o fenómeno já aconteceu há 21 milhões de anos – o tempo que a luz gastou a vir de lá até cá – justificando isso afirmar-se que a M101 (e os milhares de milhão de estrelas que a constituem) está a 21 milhões de anos-luz da Terra!
Nos próximos meses a luminosidade da “supernova” irá diminuir, à medida que ela se aproxima do final da sua vida, que, segundo os conhecimentos atuais, terá durado sete ou oito mil milhões de anos.