Uma sequência de assaltos em estabelecimentos comerciais em Mira de Aire, freguesia do concelho de Porto de Mós que faz fronteira com Alcanena, gerou uma vaga de boatos contra imigrantes, nomeadamente do industão (Índia, Bangladesh, Nepal, Paquiestão, entre outros). As infundadas desconfianças alastraram-se rapidamente levando o medo até localidades do concelho vizinho, como Minde ou Serra de Santo António.
Por exemplo, uma publicação no dia 21 de Janeiro de um comerciante de Serra de Santo António alertava para o perigo vindo de uma “viatura muito suspeita com três indivíduos, um deles com turbante na cabeça”. Mais tarde um dos indivíduos em causa identificou-se na publicação como sendo um imigrante a viver em Telhados Grandes e, como explicou, inofensivo.
Ainda assim, o autor da publicação insistiu no ângulo com que apresentou as suas desconfianças: “Não foi alarme injustificado [ter feito a publicação]” porque “em Mira de Aire, por exemplo, a semana passada todos os dias houve assaltos”.
A publicação, entretanto, teve dezenas de partilhas e a maioria dos comentários espelhava o teor xenofóbico das suspeitas: "Porque alugam casas a essa gente?? Porque é que dão trabalho a essas pessoas??", questionava outra conhecida empresária da região; "Há sempre quem defenda a escumalha, com a desculpa dos 'coitadinhos' estarem a ser vítimas de preconceito", versava outro cidadão; "Era apanhá-los e sacudir-lhes o pó, que essa malta vem de longe, em princípio tem um pouco de pó...", ironizava outro.
Numa comunidade pequena, estes alertas infundados aumentaram o medo em relação ao perfil dos cidadãos assinalados como suspeitos.
MISTÉRIO RESOLVIDO: O ASSALTANTE É PORTUGUÊS
No dia 12 de Fevereiro, contudo, terminou o mistério: em comunicado, o Comando Territorial de Leiria anunciou que “através do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) de Leiria, deteve um homem de 50 anos, por furtos em estabelecimentos, na localidade de Mira de Aire” na sequência de “uma investigação que decorreu durante cerca de três meses e que permitiu apurar que o indivíduo, através do arrombamento de portas e janelas, conseguia aceder aos estabelecimentos de onde furtava numerário e objetos”.
A Guarda Nacional Republicana informou ainda que “no seguimento das diligências foi realizada uma busca à residência do suspeito, tendo sido apreendidos vários objetos e vestuário que o relacionam com os furtos realizados”.
Ao Jornal Abarca o Capitão Daniel Matos, Comandante do Destacamento Territorial de Leiria, confirmou que se trata de um cidadão português e que lhe foi aplicada a medida de coação mais grave: prisão preventiva.