Setembro é o mês dos reencontros.
Em cada setembro, ocorrem reencontros entre amigos, colegas, alunos e até encarregados de educação. As interações humanas acrescentam-nos, enriquecem-nos, melhoram-nos.
Este ano, este mês trará três novidades ao nível profissional e pessoal. Não se consegue separar um do outro…
A primeira novidade é que finalmente este concurso interno de professores abriu as vagas suficientes para que muitos docentes que permaneciam há longos anos na carreira efetivassem mais perto de casa ou simplesmente efetivassem. Sabemos das imperfeições que, em muitos casos, contabilizaram um excesso de vagas reais criando assim uma confusão geral de horários zero, ou seja, ao professor chegado a uma escola é-lhe dito para se desenganar com a dita efetivação fictícia, pois não terá ali o seu trabalho que lhe permitia a tão almejada estabilidade, e à sua família, mas terá, sim, que concorrer de novo e obrigatoriamente para todos os agrupamentos de escolas de uma zona pedagógica. Desespero a que as vicissitudes da vida de professor nos pretendem habituar, mas que são como um murro no estômago, impossível de habituação. Para esses colegas, tenho a sincera solidariedade, o lamento e a palavra coragem.
Numa breve retrospetiva, no dia 1 de setembro de 1993, ingressei muito jovem na docência. Era o meu sonho de criança finalmente cumprido, a minha missão. Entrara com 5 anos no 1.º ciclo, com 17 na Universidade de Coimbra, numa Licenciatura de 4 anos, como era obrigatório antes das licenciaturas do acordo de Bolonha, com 21 anos comecei a dar aulas com o estágio integrado na escola secundária de Pombal. Ainda recordo alguns dos meus pequeninos do 7.º ano, do brilho dos olhos azuis do Luís, dos sonhos da minha Maria de olhos grandes e castanhos, das enormes dificuldades de leitura do António…
Após viajar por Portugal em cumprimento da missão, já como professora efetiva, obtive estabilidade com 110 km diários, no Agrupamento de Escolas Verde Horizonte de Mação, onde obtive a minha segunda casa e onde permaneci 15 anos efetiva, sendo os últimos dois anos destacada no Agrupamento de Escolas Cidade do Entroncamento. Estes prepararam a minha transição para este Agrupamento que já considero a minha segunda casa. Após 31 anos de docência, posso dizer que estou em casa (a cerca de 6 km de distância da minha residência) e não só pela proximidade, mas igualmente pela qualidade dos colegas que vou conhecendo.
A segunda novidade é a tão falada e prometida recuperação do tempo de serviço, agendada para o dia 1 de setembro de 2024. Trata-se da primeira parte dos 6 anos, 6 meses e 23 dias dos quais serão restituídos, para já, 599 dias. Para já ou, melhor dizendo, só agora.
Obviamente que o Ministério não conseguiu deixar de complicar. Surgiram notícias de uma plataforma onde cada docente, em pleno agosto, mês de férias obrigatório na minha profissão, deveria validar os dados introduzidos pelas secretarias das escolas, para termos acesso ao que é nosso desde o primeiro congelamento do tempo de serviço ocorrido em 30 de agosto de 2005. Tempo que nos devem praticamente há 20 anos, portanto. E como tempo é dinheiro…
Tornou-se, desde logo, humanamente impossível nas secretarias cumprir estes prazos. Ora, quem está habituado a estas plataformas sabe o quão bem elas funcionam, por isso, como não podia deixar de ser, no primeiro dia, não se lhes deve tocar; no segundo dia, tenta-se entrar e dá erro e, no terceiro dia, verifica-se o que se supunha - foi impossível, em tão pouco tempo, introduzir os dados completos e de forma correta.
Esclareço os distraídos, ou deliberadamente distraídos, que não podem confundir a recuperação do tempo de serviço congelado dos professores com aumentos salariais, subsídios de risco, revisão de carreiras ou revisão salarial de outras classes profissionais que, apesar de legítimas, não o discuto, nada têm que ver com esta recuperação de tempo de serviço que foi há muito prestado efetivamente, por cada professor e nos foi, falando bom português, roubado.
A terceira novidade trata-se da obrigatoriedade de, na elaboração dos horários dos professores, este ano, se incluir ainda mais uma turma, o que, na minha disciplina, se traduz num acréscimo de 5 aulas por semana. Escrevi aulas e não trabalho, pois como podem compreender, esta 5 aulas implicarão outras horas não letivas.
Se a classe docente acusa cansaço, exaustão e se sabe que é uma classe profissional envelhecida, sobrecarregar desta forma os professores pode ser mais uma forma de agravar um problema e não de o resolver. Se um professor já, muitas vezes, anda nos seus limites, agora com mais facilidade será levado a ultrapassá-los e a eventualmente ter de colocar atestado médico. Este facto, por sua vez, sobrecarregará outros docentes que, num efeito de dominó, elevará ao expoente máximo o problema e não conduzirá obviamente à solução do problema de alunos sem aulas. Este problema deve-se à incúria, à incompetência e irresponsabilidade, à falta de planeamento dos sucessivos governos portugueses que levou à falta de professores. Agora o caricato é o aliciamento de professores reformados para regressarem à profissão.
Por último, dado que um dos principais critérios na elaboração de horários é a continuidade pedagógica, conto ver de novo as carinhas que já conheço dos meus jovens alunos, obviamente alguns serão novos, visto o agrupamento estar sempre em ebulição e chegarem alunos e, por vezes, partirem, do início ao final do ano letivo.
Que este ano letivo traga muito sucesso e felicidade a todos!