Desde 1985 que, todos os anos, em setembro, decorrem atividades no âmbito do projeto designado – pelo Conselho da Europa e pela Comissão Europeia - “Jornadas Europeias do Património”, nas quais participam mais de 50 países, com o objetivo de sensibilizar os cidadãos para a importância da preservação e salvaguarda de patrimónios. Eles, os “patrimónios”, podem ser edifícios considerados de importância histórica tanto para países como para cidades e pequenas localidades, tradições, histórias escritas e contadas ou músicas e canções que lembrem tempos passados e formas de vida que permitam apreciar influências de tal passado nas atuais profissões, na organização da vida quotidiana, nas comodidades acessíveis à generalidade da população, e muitos outros aspetos da vida comum de cada dia.
Assim se facilitará, pensa-se, uma reflexão sobre como se viveu, como se vive e, talvez mais importante, a compreensão da necessidade de se participar - individual e coletivamente - na preparação do futuro. Na verdade, a decisão e o esforço do Conselho da Europa e da Comissão Europeia, surgem na sequência do conteúdo da “Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural” adotada pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1972, ano dominado por um movimento internacional disposto a estudar e a intervir no papel que o património, em geral e, em particular, os museus, poderão ter no desenvolvimento cultural e económico das populações, com especial atenção para as mais desfavorecidas. A “Mesa Redonda de Santiago do Chile” (maio de 1972) juntou especialistas na matéria, oriundos de França, Espanha, Portugal, Brasil e vários outros países da América Latina, tendo produzido um documento que incentivou o desenvolvimento de novas ideias para a interpretação e preservação do património em geral.
As Jornadas Europeias do Património – procurando abranger as diversas considerações que sobre o tema podem ser feitas – dedica a iniciativa de cada ano a uma área específica, tendo escolhido para 2024 “Rotas, Redes e Conexões”, tema que, em Portugal, o Instituto do Património Cultural considera como “uma oportunidade de reflexão sobre aquilo que nos une e que tem permitido, ao longo de séculos, a partilha de práticas culturais e artísticas”.
Das inúmeras iniciativas que vão decorrer – entre 20 e 22 de setembro – cita-se a promovida pelo Centro Ciência Viva de Constância, num espaço que agora utiliza como complemento à sua atividade de promoção da cultura (não só científica), missão que implica o envolvimento de cidadãos em atividades conjuntas e diversificadas, em convívio e partilha de saberes, num verdadeiro exercício de cidadania, condição indispensável à salutar vivência democrática. A “Quinta D. Maria”, em Montalvo, foi outrora espaço de recolha e elaboração de produtos agrícolas dos vastos campos de onde eram trazidos o milho, o trigo, a azeitona e as uvas, e de cujo produto era retirada uma pequena parte para complementar os magros salários dos trabalhadores. Desaparecida a agricultura tradicional e extintas as respetivas atividades, a “Quinta” é agora um local parcialmente em ruínas que constitui um verdadeiro “espaço de memórias” e que se pretende venha a ser reconstruído de modo a poder ser também um “espaço de inovação”, tendo como inspiração a vida agrícola de tempos idos.
A tarde do dia 22 (domingo) será ali ocupada por três coletividades representativas das freguesias do concelho - elas próprias verdadeiros patrimónios - demonstrando trajes e danças de ocasiões diversas de tempos antigos, cantando muitas das cantigas que animavam as horas de trabalhos violentos no campo ou, finalmente, a arte de utilizar 63 sinos (de algum modo semelhantes aos que, em tempos, aqui serviam apenas para anunciar missas, batizados, casamentos e funerais ou pedir socorro para algum incêndio), reproduzindo melodias antigas e modernas.