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21 OCT 2024
OPINIÃO | "A Ironia"
Por Jornal Abarca

Lembro-me, como todos nós em idade que o permita nos recordamos, onde estava no dia 11 de Setembro de 2001. Fiquei aterrorizado, mas ao mesmo tempo pensativo sobre os números. Foram 2996 mortes directas, confirmadas apenas meses depois, mas logo no dia se percebeu que existiam milhares de mortes. O que me fez reflectir, ainda criança, é sobre a forma como se tornou banal relativizar números deste calibre. Não estamos lá, não vimos, não cheirámos, não sabemos, não conhecemos os rostos nem os nomes de quem se foi. Portanto, para nós são apenas números: 30, 300 ou 3000, à distância, é apenas uma questão de mais uns zeros à direita. No dia seguinte acordamos e seguimos o nosso caminho.

 

É certo que o nosso caminho nunca mais foi o mesmo depois do 11 de Setembro. Porque aconteceu nos Estados Unidos da América, disso não haja dúvidas. O que Israel tem feito na Palestina ao longo de décadas tornou-se a vergonha dos nossos tempos. Abusam de uma posição privilegiada que conta com o apoio dos Estados Unidos da América e dos estados europeus mais fortes como França ou Reino Unido, e de uma força beligerante completamente desequilibrada para terraplanar uma terra que tem gente dentro a viver.

 

Segundo dados oficiais revelados no final de Setembro morreram perto de 42 mil palestianos desde 7 de Outubro de 2023 quando Israel, à boleia dos ataques do Hamas, destrói tudo o que aparece à sua frente. 42 mil pessoas assassinadas por um Estado terrorista significa que na Palestina houve o equivalente a quatorze “11 de Setembro” no último ano. E vejo pessoas a falar com um orgulhoso sorriso de ignorância, de desprezo pelas crianças que morrem, pelos que perdem tudo o que têm por culpa da ganância humana. Não queremos saber porque não estamos lá, não os vimos, não cheirámos, não sabemos, não conhecemos os rostos nem os nomes de quem se foi. Com a agravante de ter sido num mundo que julgamos diferente do nosso e não naquele com que nos identificamos.

 

A Palestina vencerá. Possivelmente não viverei o suficiente para ver essa vitória, mas assim será. Nem que Israel ocupe 100% de um território que não lhe pertence, há algo que não conseguirá exterminar: o orgulho e a capacidade de resistência de um povo.

 

Alguém escreveu numa estação de metro, cuja localização fui incapaz de apurar: “A ironia de se tornar aquilo que um dia odiou” com um desenho da Estrela de Davi entrelaçada na Cruz Suástica. Talvez seja a forma mais directa de resumir tudo isto. Sinto-me verdadeiramente envergonhado e enganado por me terem dito que não se podiam repetir estes horrores e hoje assistir a estes crimes pela televisão.

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