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01 FEV 2008
DESPORTO É NA TÁGIDE: "VOLTO JÁ"
Por MÁRIO RUI FONSECA

 

Duas dezenas de “carolas” fazem dos programas desportivos verdadeiros acontecimentos. 

 

Uma das rádios do Ribatejo com maior popularidade, a Rádio Tágide - Cooperativa de Rádio Cultura e Recreio, em Tramagal, tem liderado audiências e conquistado novos anunciantes graças a duas dezenas de “carolas” que fazem dos seus programas desportivos verdadeiros acontecimentos.

São ex-”cromos da bola”, entre jogadores, técnicos e árbitros, que, com os seus pontapés na gramática e com as histórias e vivências pessoais que vão relatando aos fins de semana, fazem as delícias do auditório desta estação emissora.

Como diz o vice-presidente desta rádio local “quem dá o que tem a mais não é obrigado” e é na genuinidade das suas intervenções, “apesar dos pontapés na gramática”, que está o segredo do seu sucesso.

Segundo Américo Garcia “existe a preocupação de que falem bem o português porque há muita gente a ouvir mas, às vezes, com os nervos, não é possível”.

São quase duas dezenas de indivíduos que colaboram gratuitamente - “a troco de gasolina e alguns petiscos” - e cada um deles parece ter sempre uma história melhor para contar.

Todos têm dias bons e dias maus. “Aquele foi dos maus”, admite João Rodrigues, árbitro retirado depois de 25 anos de apito na boca, ao recordar o momento em que cortou uma jogada de perigo à equipa da casa, o Fazendas de Almeirim.

Nos protestos que se seguiram, mostrou o cartão vermelho a um futebolista e este “não gostou mesmo nada”.
Os outros vieram atrás, o juiz foi recuando e, às tantas, começou a correr. Percebeu que já não conseguiria chegar ao balneário e acabou por se furtar, também ele, entre as parreiras de uma vinha.

“Parecia o Obikwelu”, lembra.

Na Golegã, o mesmo árbitro também teve de expulsar um jogador. E o inacreditável aconteceu. O futebolista tirou-lhe o cartão da mão, a assistência começou a rir e, quando ainda tentava perceber como ia gerir a situação, já tinha levado um murro que o mandou ao chão.

O caso chegou aos tribunais. Sem condenações.

“São situações complicadas para quem as vive na altura mas hoje conto-as porque já passaram e porque sei que as pessoas gostam de ouvi-las”, conta.

No futebol distrital de grande rivalidade e frágil segurança, a noite caiu no campo de Salvaterra de Magos, sem luz artificial. Não se via nada e um golo foi anulado.

Os jogadores da casa quiseram “malhar” no árbitro. O público veio atrás. O juiz em fuga tropeçou numa rede que separava o recinto de uma propriedade e caiu. Os futebolistas caíram também e ainda os adeptos que vinham atrás. Toda a gente no chão.

Mataram o homem? Não, “desataram todos a rir”, recorda o repórter Avelino Machado.

Mas nem todas as histórias são boas para este comentador desportivo. Um dia fez uma análise nada abonatória para a equipa do Amiense. Quando esta equipa recebeu o Tramagal Sport União e ele foi chamado a fazer a cobertura do encontro, levou, logo à chegada, com uma cadeira na cabeça de um adepto do clube da casa. E continuou o seu trabalho com escolta da GNR.

Tão difícil como a missão de António Bento, guarda-redes do Sentieiras, um homem capaz de fazer os comentários na antena da Tágide de um desafio que ele próprio estava a jogar.

Quando se avizinhava o perigo para a sua baliza e antes de pousar o telemóvel, dizia, com cortesia, para o auditório: “Volto já”.

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