No Crucifixo (Tramagal) a tradição ainda é o que era. O Baile da Velha realiza-se há mais de cem anos.
O “Baile da Velha” está para perdurar na Sociedade União Crucifixense (SUC). A “Senhora Baronesa Dona Estompilha Serrote Abre-latas”, 169 anos, viúva de pelo menos de doze maridos e meio, teve a sua homenagem fúnebre no sábado, 29 de Março.
Foi um pouco mais tarde do que é habitual. Normalmente, o “baile da velha” no Crucifixo é antes da Páscoa, para assinalar o período de jejuns e sacrifícios da Quaresma. No entanto, este ano, como a nova direcção da SUC entrou em funções recentemente, o baile foi adiada.
A “Senhora Baronesa Dona Estompilha Serrote Abre Latas” é uma boneca comestível. Braços feitos de tortas bem doces, vinho e azeite em vez dos fluidos orgânicos. Todo o corpo é composto por produtos alimentares oferecidos pelos sócios da SUC e moradores da aldeia.
Ao som de Élsio Nunes, começou o baile. O cortejo fúnebre da defunta “Baronesa”, deitada num tabuleiro, circula pela sala até subir ao palco para ser leiloada. Familiares e amigos próximos “lamentaram a perda” com muitas “lágrimas de tristeza”.
A “Velha” é levada para o palco acompanhada pelo médico, pelas enfermeiras e pelo notário que se encarrega de ler o testamento de “Dona Estompilha”.
Um texto humor sarcástico que tece críticas às carências da aldeia, como é o caso do parque infantil.
“Para testemunhar o acto, compareceram também o acto o Senhor Simplício Simplório da Simplicidade, de 110 anos, homem de estima e consideração, que se fez acompanhar do seu bisavó e avô. E o Senhor Engenheiro Civil Anjinho dos Anjos Domingos Dias Santos e Boavida, recém reformado, de 121 anos e 33 dias de idade. Na grande cabeça não faltam ideias para a obra do Parque Infantil que esta localidade também necessita”.
O passeio para peões, que liga a aldeia ao Tramagal, mas que não chega a entrar no Crucifixo também foi alvo de humor.
“A Senhora Baronesa depois de ter emigrado para as Caldas, durante 99 anos e 32 meses, regressou à sua terra natal. Passeando pelo passeio que liga à Vila de Tramagal, a senhora, muito debilitada na sua capacidade visual, não se apercebeu do fim do passeio e deparou com uma queda fatal no aqueduto do Poço de Ferro, que a levou a efectuar o seu testamento”.
FESTA, É FESTA
Vítor Hugo Cardoso, presidente da Sociedade União Crucifixense, frisa que o baile já existe há mais de cem anos: “O Crucifixo tem mantido este baile há muitos anos. O meu pai, agora com quase 90 anos, sempre me falou nele”, justifica. O dirigente recorda que o Baile da Velha “tem um forte carisma na SUC” e além de tudo “dá sempre boa receita. E já há muitas pessoas de fora que vêm ver o Baile da Velha por curiosidade”.
O trabalho da direcção começou às 14h e ficou concluído às 7h da mamnhã do outro dia e “ainda houve pessoas que também não se deitaram no segundo dia. Mas festa, é festa”, referiu.
A comprovar o êxito da iniciativa estão os 600 euros de lucro conseguido no reavivar desta tradição que vai continuar no Crucifixo “por muitos e longos anos”.
André Campos, da direcção da SUC, também participou no leilão e adquiriu o braço da velha, por 26 euros, fê-lo “para ajudar” os seus colegas do elenco”.
Quanto a esta nova experiência no associativismo, o jovem diz que lhe custava muito “ver a sociedade fechada” e falou com uns colegas, depois falaram com presidente e ali estão “para trabalhar”.
No final do mandato, André espera que “haja mais listas candidatas aos corpos sociais” da SUC.