O manjar repete-se todos os anos. Na segunda-feira, à seguir aos festejos anuais, a população da Queixoperra, freguesia de Penhascoso (Mação) tem uma festa só para si: chanfana à descrição.
A tradição não é muito antiga, começou no início da década de 80, quando um grupo de mancebos da terra foi à inspecção. Do grupo inicial resta Augusto Matos, o “Breve” como é conhecido.
“Era tradicional haver um baile da inspecção, no meu ano quisemos fazer uma festa em grande. Como a electricidade tinha chegado à Queixoperra em Dezembro de 1981, podíamos contratar um grupo”, relata Augusto Matos.
O grupo veio da Malveira da Serra e o cachet saiu caro. Então, o melhor era organizar uma festa para angariar lucros. A população mobilizou-se: “Podemos zangar-nos uns com os outros, mas somos muito unidos e quando toca a trabalhar para a terra, trabalhamos todos”, continua o Breve.
Nesse ano (1983), na segunda-feira seguinte matou-se um porco e a população comeu e bebeu. “Esse foi o primeiro jantar e foi assim que começou a tradição de um jantar para todos”. Em 1984, o repasto foi de peixe. “Fomos deitar as redes para Ortiga e pescámos muito peixe”.
A chanfana apareceu em 1985. “É um prato típico da Queixoperra, feito à nossa maneira”, acrescenta Lurdes Vicente, presidente do Centro Recreativo e Cultural da terra, responsável pelos festejos.
A chanfana é feita de ovelha e não de cabra velha como é tradicional mais para o norte. Também não leva vinho tinto, mas ABARCA garante que é boa. Este ano foram mortas seis ovelhas, oferecidas, mas como nem todos gostam do pitéu cozinharam-se mais 15 quilos de bifanas e 30 frangos.
Este ano, a festa foi no fim-de-semana de 19 e 20 de Julho, e na segunda-feira parecia que havia feriado na terra. “É o habitual, a maior parte ou está de férias ou tira o dia. Porque hoje a festa é nossa”.
Era grande a azáfama. No alpendre cortava-se pepinos e tomates, arranjava-se alfaces e descascava-se batatas. Lá dentro, Regina Martins tomava conta dos enormes panelões fumegantes que exalavam um cheiro apetitoso.
“Está quase pronto, se demorarem um pouquinho por aí, podem provar”. Regina é cozinheira na Escola E/B 2,3 e a responsável pelo tempero do cozinhado. Ervas aromáticas muitas, colorau, alho, cebola, vinho branco, azeite e sal e a mão para misturar tudo isto com conta, peso e medida.
Mas o dia da aldeia conta com mais atractivos. De manhã, é o desporto que ocupa as gentes. Carrinhos de rolamentos, inovação deste ano, futebol masculino e futsal feminino. Os homens dividem-se em solteiros e casados e as mulheres, mais sofisticadas, entre benfiquistas e sportinguistas. “Ganhou o Benfica por 3 – 2”, adianta uma das atletas que, na altura, era espectadora de outro desporto, mais pacato: a sueca.
Na sala da colectividade, as mulheres disputam um torneio de sueca. Mais e menos novas, seguem atentamente o jogo das parceiras. “Uma renúncia são quatro jogos”, recorda-se numa das mesas não vá a adversária pensar que pode cortar, em vez de assistir o naipe.
Na divisão maior, onde perto das 9h00 da noite o jantar vai ser servido, os homens acabam o torneio de bisca de 9. Concentrados, os últimos jogadores nem dão pela entrada de gente estranha, coisa que não aconteceu quando a equipa de ABARCA chegou ao alpendre, onde se preparava a salada. Nos tempos que correm é bom ter cuidado quando se cozinha fora de casa.
Depois da volta a chanfana estava pronta e é francamente boa, garantimos.