O ministro da Economia anunciou no dia 1 que o concurso para a barragem de Almourol vai ser lançado em meados de Abril.
Nelson de Carvalho, presidente da Câmara Municipal de Abrantes, assumiu que “a situação evolui de tal de forma que o Governo não vai tirar a Barragem de Almourol, nem nenhuma outra, do Plano Nacional de Barragem de Elevado Potencial Hidroeléctrico. A expectativa é que não haja nenhum empresário interessado em suportar os custos do investimento”. Adiantou, no entanto: “Tenho garantias que a barragem a ser construída será sempre a uma cota inferior a 31 metros e não terá prejuízos para as populações ribeirinhas”.
A presidente da junta de freguesia de São Miguel do Rio Torto, Lurdes Botas, não se quis pronunciar, identificando-se com a posição tomada pelos órgãos municipais.
No entanto, para Luís Valamatos, presidente da junta de freguesia do Rossio ao Sul do Tejo, a situação torna-se “cada vez mais preocupante”: “É certo que o lançamento do concurso faz parte do processo normal, já que não foi possível retirar o projecto, tínhamos consciência que isto ia acontecer. Esperemos que as razões apresentadas por Abrantes sejam tidas em linha de conta durante o estudo de impacto ambiental. No entanto”, acrescenta: “O anúncio do lançamento do concurso deixa-nos alguma preocupação e a dúvida fica sempre no ar. Será que o Governo vai aceitar as nossas razões e retirar o projecto?”.
Rui André, presidente da junta de freguesia de Rio de Moinhos, é mais assertivo: “Na prática, a construção desta barragem está num processo irreversível, sem ter em conta as preocupações das populações afectadas. Estamos muito preocupados e, concretamente, continuamos sem saber os reais impactos desta barragem”.
O autarca recorda que ficou decidido, na assembleia municipal de Abrantes, a elaboração de uma comissão de acompanhamento composta pelo presidente da Câmara, Assembleia Municipal, partidos políticos representados neste órgão e os presidentes de junta afectados, mas “até à presente data ainda não foi constituída ou nunca reuniu”.
O executivo da Junta vai solicitar uma reunião “de urgência” com o presidente da câmara e “pressionar as entidades envolvidas no sentido de obter respostas mais esclarecedoras”.
MOVIMENTO
“Este anúncio acaba por ser positivo, porque no contacto com as populações sentimos que há um grandes descrédito em relação à construção da barragem. Agora talvez seja mais fácil sensibilizar as pessoas para o problema”, opinou Joaquim Mendes, porta-voz do Movimento Anti-Barragem.
Em seu entender a Câmara de Abrantes “tem de assumir uma posição imediatamente. Dizemos isto desde o início ou se assumem ou se ficarem calados terão de assumir as responsabilidades”.
O Movimento tem promovido diversos debates com técnicos e representantes de diversas facções políticos para esclarecimento das populações. Sábado, dia 5, o convidado é Paulo Portas, líder do CDS-PP.
“Mas sozinhos pouco podemos fazer, precisamos de apoio das autarquias. Fazemos o que podemos, mas faltam-nos fundamentação técnica, mas claramente que não vamos ficar expectantes”.
João Joanaz de Melo, ambientalista foi um dos convidados pelo Movimento. Professor auxiliar da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT) e do Grupo de Estudo do Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA), “mostrou-se bastante crítico relativamente a todo o Plano Nacional de Barragens(PNB). E, em particular sobre a barragem do Almourol considerou: “Este projecto foi feito em cima do joelho uma vez que não foram avaliadas alternativas nem impactes cumulativos, não são preservadas as espécies e a biodiversidade, vai destruir os habitats ripícolas e o turismo de natureza e colocar em risco a segurança e bem estar das populações”.
O “Movimento Anti-Barragem”, que reúne “algumas dezenas” de populares rossienses, ganhou notoriedade através do blogue antibarragem.blogspot.com.