“Histórias do Sol, da Lua e do Pão”, a forma que Constância escolheu para comemorar o Dia Internacional dos Museu.
“Oh, Lua, Oh Luar, já que me deste o meu menino deixa-mo criar”. Ainda hoje, pelo menos as avós, entregam as crianças à lua para que cresçam saudáveis e não sofram o quebranto da lua. A entrega é feita logo na primeira noite de luar a seguir ao nascimento.
“Se não for assim, tem problemas de barriga”. Para as maleitas intestinais, Manuel Maria da Silva - o “Manel da Farmácia” – bem se lembra de vender muito “óleo da lua”. Uma mistura de óleos, onde entrava a beladona, com que as mães esfregavam o ventre dos bebés.
Estas e muitas outras histórias foram recordadas pelos idosos do concelho de Constância a 18 de Maio – Dia Internacional dos Museus – no Centro de Centro Ciência Viva de Constância, de Constância.
Mais abaixo, a história era outra. Custódio Oliveira, de 72 anos, e Manuel João dos Santos, de 86, preparavam com o saber de muitos anos as “migas pintassilgas”.
Azeite quanto baste a fervilhar em caldeiras zincadas sobre fogueiras feitas em covas. “O azeite tem que estar na conta para não estragar as migas”, explicavam, enquanto observavam a temperatura do óleo.
“Oh Custódio este já está”. “Deita-lhe o pão”.
O pão de milho – broa - cortado muito fininho foi deitado com mestria nas caldeiras. Depois à que mexer, para envolver e embeber o pão no azeite a ferver.
Dobrados sobre os panelões, os cozinheiros mexem e remexem as migas com o jurado. Um pau de azinho ou oliveira, porque “as colheres são muito leves”.
Enquanto isso, cozia-se a couve galega cortada grossa. “Quando a miga estiver pronta juntam-se as couves, porque estas são migas pintassilgas, se fossem carvoeiras não levavam couve, é a única diferença. E tem que ser comidas quentes senão não prestam”, explica o Tio Custódio.
Eram os homens que cozinhavam as migas. A ceia de todos os dias dos carvoeiros. “No inverno éramos carvoeiros no verão esgalhávamos sobreiros”.
Em Constância, as migas pintassilgas acompanharam bacalhau assado, iguaria pouco vista nos tempos em que os cozinheiros andavam pelo campo. “Se havia um bocadinho de bacalhau era cortado em tiras muito fininhas, com um navalha bem aguçada para dar para muito tempo. Comíamos migas à ceia, grão ou feijão com massa ao jantar, e feijão frade extremo ao almoço. Conduto era raro. Era assim dantes, mas azeite havia com fartura”.