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01 JAN 2007
ALICE VIEIRA: O JORNALISMO ESTÁ PRIMEIRO
Por MARGARIDA TRINCÃO

 

É uma das escritoras portuguesas mais traduzidas e divulgadas no estrangeiro, mas abandonaria mais facilmente os livros do que a sua profissão de sempre: o jornalismo.

 

Alice de Jesus Vieira Vassalo Pereira da Fonseca - Alice Vieira - nasceu no Ribatejo em Março de 1943. “Certo que fui para Lisboa com 15 dias, mas nasci nas Lapas, uma aldeia do concelho de Torres Novas”, donde é natural grande parte da sua família.

Cresceu entre adultos e para se entreter inventava histórias que depois contava a ela própria. “Escrevia histórias, ponha-me em frente de um espelho e contava-as para mim. Passava horas assim”. O entretimento fez com que aprendesse a ler e a escrever sozinha muito pequenina, numa idade em que as crianças só sabem ver os bonecos. “Tive uma vida muito complicada e essa era a única forma de me sentir um pouco mais contente. Sempre vivi com gente com muito pouca paciência, não me ligava nenhuma e então eu tinha que fazer por mim própria”, contava com ar de catraia a uma plateia de alunos do primeiro ciclo, na Biblioteca Municipal de Mação. 

Para além das suas histórias, Alice Vieira lia tudo o que lhe “passava pela frente”: “Lia sobretudo os grandes dramas das minhas tias. Liam uns dramas horríveis e choravam como Maria Madalena. Eu lia-os também e gostava muito”.

Continuou a escrever e aos 17 anos entrou no mundo dos jornais, como colaboradora do Suplemento Juvenil do Diário de Lisboa. Licenciou-se em Germânicas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, em 1969, dedicou-se ao jornalismo profissional. Mas de então para cá muita coisa mudou.

“Pertenço a uma geração, em que nem sequer se sonhava que podia haver escolas de jornalismo. Hoje, que há tanta escola como é que a informação é tão má, porque é que se escreve tão mal?” questiona a escritora que prefere ser tratada como uma jornalista que escreve uns livros “porque o jornalismo está sempre primeiro”. 

Como jornalista Alice Vieira lamenta a situação actual da informação e recorda: “Lembro-me de gente que entrevistei, de textos que escrevi que hoje, de certeza absoluta, não me deixariam fazer. Hoje, se não é atraente não se escreve. A cultura é uma coisa que tem cada vez menos leitura nos jornais. É atirada lá para o fim... Na televisão há um programa de livros às 3 da manhã”. Por outro lado, prossegue: “Estão sempre a despedir gente, por isso os jornais não têm história. Com trinta e tal, quarenta anos é se velho para os jornais e sabe-se que esta profissão necessita muito de memória. Nas televisões estrangeiras os pivot são pessoas com 40, 50 anos... Cá são todos muito novinhos e isso faz um tipo de jornalismo muito mediático”.

Em 1979, desafiada pelos filhos, edita o seu primeiro livro “Rosa, minha irmã Rosa”, distinguido com o Prémio de Literatura Infantil “Ano Internacional da Criança” (1980). Com cerca de 50 títulos, Alice Vieira conta com diversos prémios, sendo o livro “Os Olhos de Ana Marta”, o mais premiado. Do currículo da “jornalista que escreve livros” consta o Prémio Calouste Gulbenkian de Literatura Infantil, em 1983 com “Este Rei que Eu Escolhi” e nove anos mais tarde o Grande Prémio Gulbenkian, pelo conjunto da sua obra. A Secção Portuguesa do IBBY (International Board on Books for Young People) nomeou-a como candidata portuguesa ao Prémio Hans Christian Andersen, de que foi uma das cinco finalistas em 1996. O galardão é o mais importante prémio internacional no campo da literatura para crianças e jovens, atribuído de dois em dois anos a um autor vivo pelo conjunto da sua obra. As suas obras foram traduzidas para várias línguas, destacam-se o alemão, o búlgaro, o basco, o castelhano, o galego, o francês, o húngaro, o neerlandês, o russo e o servo-croata.

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