Fazer tachos de arroz doce para centenas de pessoas não é tarefa que meta medo a Narciso de Jesus Alpalhão Milheiriço, de 78 anos. “Se Deus quiser faço 79 anos em Novembro”. Ninguém diria.
Com a vivacidade a brilhar-lhe nos olhos, Narcisa não desarma: “Não custa nada, faz-se muito bem”.
Muito bem para quem sabe e que para além de guardar as receitas da mãe e avós, “tem mão” para a cozinha. Ao arroz doce acrescenta sempre um pouco de manteiga “era assim que a minha mãe fazia”, mas por muito que se respeita a quantidade e qualidade dos ingredientes o arroz-doce de Narcisa “é sempre melhor”, confessam os netos.
Na mostra gastronómica havia três qualidades do doce que cai sempre bem: arroz doce tradicional, à moda a antiga e com nozes. Nos dois primeiros variam os ovos, um leva outro não, ao terceiro acrescentam-se nozes aos ovos: “Não tem tão bom aspecto, porque as nozes escurecem-no, mas é muito bom”.
Narcisa Milheiriço nasceu no Pisão, uma aldeia “perdida”, onde só acede por estradas de terra batida. Mudou-se para Lisboa, onde lhe nasceram os filhos e já depois dos 50 decidiu emigrar. “Achei que devia conhecer mais mundo. Tinha um irmão no Canadá, ele arranjou-me emprego como governante em casa do cônsul português e fui sozinha. Só três meses depois o meu marido e os meus filhos foram ter comigo. Hoje arrependo-me por tenho filhos e netos no Canadá… Estão muito longe. Se eu não emigrasse, se calhar estávamos mais perto”.