Saiu de Tramagal em busca de uma vida melhor. Rumou a França e daí acabou por emigrar para a Austrália. João Elói já não vinha à sua terra natal há 20 anos.
Embarcou em Sidney, fez escala em Banguecoque e Londres. Ao fim de 24 horas de avião chegou a Lisboa. João Elói, 71 anos, já não vinha a Portugal há 20 anos. Ao chegar a Tramagal ficou muito agradado com o que viu. “Uma terra muito linda” e, obviamente, muito diferente da que deixou há duas décadas.
Natural do Crucifixo, trabalhou na padaria da terra desde os 14 anos. Mas “só dava para a sopa. Havia que tentar uma vida melhor”, declara João Elói que em Dezembro de 1969 decidiu emigrar. “Éramos 9 dentro do táxi até Vilar Formoso”. Com “passaporte de coelho”, como diz, atravessaram a fronteira durante a noite. Tinham vestido toda a roupa que levaram e os bolsos transportavam mais alguns haveres. Sem malas feitas rumaram a França. Quando chegaram entregaram-se à polícia que lhes concedeu um documento que lhes permitiu permanecer no país durante 30 dias. Mas, entretanto, João Elói conseguiu um emprego numa fábrica.
Mais tarde, surgiu a oportunidade de voltar a emigrar. Canadá e Austrália eram as hipóteses. Para o país americano, João Elói era obrigado a ir sozinho e as despesas eram todas por sua conta. Já o governo australiano permitia que levasse a sua família e suportava todas as despesas, incluindo o pagamento de um hotel até que conseguisse emprego.
Assim, a 12 de Julho de 1972, embarcou com destino a Sidney na companhia da sua mulher e da filha, de 9 anos. A língua foi o grande problema. No entanto, sendo um país povoado por emigrantes, eram facultadas aulas de inglês em horário pós laboral. “Mas não ia à escola todos os dias”, confessa João Elói que ia aprendendo com os colegas não só a língua, mas também como se integrar nesta nova sociedade. Aliás, hoje é ele que “desenrasca muitos camaradas”.
Quanto a trabalho, “havia com fartura”, portanto, foi fácil conseguir um emprego para iniciar uma nova vida. João Elói trabalhou numa fábrica de cerâmica, numa fábrica de máquinas, numa padaria, na construção civil e acabou por trabalhar por conta própria, tendo, para além da sua mulher, mais duas pessoas a prestar serviços de limpeza.
Como contrapartida de todos os benefícios dados aos emigrantes, o governo exigia a permanência de, pelo menos, dois anos no país. “Se viesse embora antes tinha de pagar tudo o que me deram e não podia ir para os outros países da Commonwealth”. Mas, se optassem por ficar tinham de se tornar cidadãos australianos. João Elói aceitou, no entanto, fez questão de manter a nacionalidade portuguesa. “Tenho dois passaportes, um português e outro australiano”. Esteja onde estiver, “fica sempre o orgulho de ser português… e benfiquista”. Aliás, até se levanta de madrugada para poder ver todos os jogos em directo.
De Portugal chegam canais de televisão, rádios e jornais. João Elói não dispensa o contacto com as suas raízes e, já em França, era leitor assíduo do “Portugal Popular”. “Vivemos como se estivéssemos em Portugal, temos o nosso quintal, as galinhas e fazemos enchidos e vinhos”. Por outro lado, existem dois clubes portugueses onde se comemora o Dia de Camões e onde os bailes e as festas o fazem sentir como se estivesse no seu país. João Elói reside em Liverpool, a 25 km de Sidney. A filha, casada com um português, e os dois netos vivem perto.
Na Austrália, onde “o Natal é mais esquecido”, vive-se lado a lado com os aborígenes. Um país diferente também conhecido por animais perigosos. “Mas eu não tenho medo”, afirma João Elói que gosta de estar naquele país da Oceânia até porque “lá vive-se melhor que em Portugal”. Na área da saúde, por exemplo, “pagamos uma insignificância por medicamentos com receita médica”. Nunca se paga mais de três euros por cada um e, no máximo, gastam-se 120 euros por ano. Todos os medicamentos que sejam necessários durante o resto do ano são gratuitos. O ordenado mínimo é 400 euros por semana e “não existem reformas milionárias”. Cada pensionista recebe 300 euros por semana e, se viver sozinho, recebe mais 60 euros de quinze em quinze dias, uma vez que não tem com quem dividir as despesas. Quem tem outros rendimentos recebe consoante o seu valor e se os ganhos forem acima de 300 euros por semana não tem direito a reforma. João Elói acrescenta ainda que na Austrália, “os deficientes são imediatamente reformados”.
Ao contrário da filha que nunca voltou ao seu país, esta foi a terceira vez que João Elói visitou a sua terra natal. “Este ano passo dois verões. Saio no verão de Portugal e chego na primavera à Austrália”. Enquanto dura o horário de verão português são mais nove horas em Sidney. A diferença horária chega às 11 horas durante o inverno.