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01 MAI 2009
ADELINO COSTA: "A SAT FOI O MEU PRIMEIRO PROJECTO"
Por MARGARIDA TRINCÃO

 

Uma série de acasos determinou a vida do arquitecto Adelino Costa. Foi para arquitectura um pouco por caso, fez o projecto da Sociedade Artística Tramagalense, também por acaso e especializou-se em arquitectura industrial por acaso. Adelino Costa, 80 anos, é um homem bem disposto e bem com a vida.

 

Nasceu em Carvalhos, viveu em Espinho, onde conheceu a que viria a ser sua mulher, Ema Simplicio, formou-se no Porto e trabalhou largos anos na CUF do Barreiro.

“Comecei a trabalhar como desenhador com um arquitecto de que tenho muita saudade, Januário Godinho, extraordinário como arquitecto e como homem, e um dia ele disse-me “Vais matricular-te em Arquitectura”. 

Na altura, Adelino Costa estava mais vocacionado para a escultura, tinha completado o curso de desenhador na Escola Industrial e um curso de escultura estava-lhe na mira. “Bom, mas como era o patrão obedeci”.

Cursou arquitectura, mas continuou a trabalhar com Januário Godinho, e quando acabou o quatro ano foi todo contente comunicar ao arquitecto. Recebeu uma resposta que só muito mais tarde entendeu: “Óptimo, agora vais para a rua que eu não te quero aqui’. Devo ter ficado branco, mandou-me ir ter com outro arquitecto e passado um ano e pouco chamou-me”. A questão era simples, se Adelino Costa continuasse no mesmo local, mesmo formado continuava a ser o rapaz dos recados e Januário Godinho não queria que isso acontecesse.

Recém-formado e casado de fresco, começou a vir frequentemente ao Tramagal visitar os tios da mulher. Um dia – “em 1955” – o “tio” Manuel Simplício, “homem bem posicionado em relação aos patrões da Metalúrgica”, sugeriu a hipótese de construir uma nova sede para a SAT. “Como nunca fui muito repentista nas decisões fiquei a pensar naquela coisa de construir um teatro. Mais tarde voltei ao Tramagal andei a ver o que é que ele queria fazer, vi o terreno e disse-lhe que ia fazer o projecto”. Adelino Costa tinha 27 anos, ainda estava a cumprir o serviço militar em Vendas Novas, e pouca ou nenhuma experiência tinha, mas “comecei a fazer o projecto e saí-me bem”.

Foi o seu primeiro projecto que não pôde assinar como arquitecto porque lhe faltava concluir algum tempo de experiência. “No meu tempo o curso de arquitectura era de quatro anos, mais três, uma espécie de mestrado de agora”.

Em 31 de Julho de 1955, foi lançada a primeira pedra de construção, “não é como agora”. A obra demorou cerca de três anos a fazer e “correu bem. As experiências que se fizeram do som correram muito bem. Trouxe um amigo que trabalhava em inspecções na acústica dos teatros do Porto, verificou e achou que estava muito bem, ainda hoje funciona”.

Arquitecto da CUF

Um dia, foi visitar um cunhado ao Barreiro e deu conta que a CUF – Companhia de União Fabril, estava a pedir desenhadores: “Inscrevi-me e passado uma semana chamaram-me. Fui e fiquei na CUF uns 14 ou 15 anos. Tive a sorte de entrar, quando a CUF estava a demolir quase tudo. Uma remodelação total, feita em 1957/58. A partir daí estudei muito arquitectura industrial e hoje sou o único arquitecto do país que só fez indústria”.

Da CUF passou para a Profabril, uma empresa do grupo, chefiada por José Manuel de Melo, que fazia projectos na maioria para clientes estrangeiros. Foram mais quatro ou cinco anos a correr mundo para ver o terreno onde a fábrica seria implantada e adaptar o projecto ao local.

Foi assim até que, com um filho já arquitecto decidiu montar o seu próprio gabinete. “Depois ele casou com uma espanhola, foi viver para Madrid e o gabinete fechou”.

Actualmente, é a filha escultora e casada com um escultor que ocupam o espaço em São Pedro de Estoril, onde o arquitecto reside habitualmente.

Inovador na Informática

Adelino Costa foi o primeiro arquitecto da Europa a trabalhar com programas informáticos de arquitectura. “Comprei-o nos Estados Unidos, mas sem programas de desenho. Eu conhecia a computação, porque já nessa altura as fábricas de têxteis controlavam a cor de fio, a espessura, por computador, mas computadores para desenho não havia.” Na Europa não havia nada disso, mas nos Estados Unidos encontrou um programa para engenharia. “O desenho de engenharia é mais fácil do que o de arquitectura”. Com o filho que estudava Medicina, mas “é um coca-bichinhos pela informática” e dois amigos conseguiram criar um programa: “Fui o primeiro arquitecto a trabalhar com o computador”.

O Cartonista António

Pelo meio, Adelino Costa criou uma empresa de publicidade com um amigo. O cartoonista António era amigo de um dos seus filhos e ele chamou-o para lá. “O António é da Escola António Arroio era bom desenhista, uma criatividade extraordinária e fui buscá-lo. Mas ele gostava mais de fazer desenhos do que outra coisa qualquer, insisti com ele para se me meter nisso a sério, orientei-lhe um caminho. Ele lá começou a fazer uma caricatura ou outra para o Expresso e o Expresso não o larga mais. É extraordinário”.

Apesar dos seus 80 anos, feitos em Abril, Adelino Costa não pára. É um homem bem disposto e bem com a vida e se está mais ou menos decidido a abandonar a arquitectura – “ainda vou fazer mais um projecto” – pensa começar a moldar as caricaturas de António: “Já lhe apresentei o projecto, vamos ver”.

“É a primeira vez na minha vida que me acontece ser entrevistado, estou confuso, mas muito contente porque gosto muito do Tramagal. Viver custa muito, depois é preciso ter bom feitio para viver bem. Encontra-se todos os dias, a todas as horas, pessoas muito difíceis. É difícil encontrar pessoas razoáveis. É preciso ter muito bom feitio para que elas não se tornem ainda pior”.

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