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01 MAI 2007
CORONEL VASCO RAMIRES: UMA GLÓRIA DO HIPISMO NACIONAL
Por SÓNIA PACHECO

 

Representou Portugal nos Jogos Olímpicos de Munique e conta com mais de uma centena de vitórias conquistadas em três décadas de competições. Vasco Ramires, residente no Tramagal, é uma glória do hipismo nacional.

 

Fez do hipismo a sua paixão e alcançou um brilhante palmarés durante três décadas de competições. Conta com uma participação nos Jogos Olímpicos e, das mais de 650 classificações que conquistou, cerca de 140 foram vitórias. Sócio de mérito da Federação Equestre Portuguesa, Vasco Ramires, Coronel de Cavalaria, foi ainda distinguido com as Insígnias de Bronze da Federação Equestre Internacional.

O cavaleiro que facilmente se adaptava à personalidade do cavalo, integrou a equipa portuguesa em 17 Taças das Nações, conquistando duas vitórias em Lisboa e uma em Madrid. Nesta cidade, venceu também as únicas duas Taças de Ouro da Península em que participou. Destacam-se ainda dois títulos de melhor cavaleiro na Taça das Nações e 15 vitórias em Grandes Prémios, duas das quais em provas de CSIO (Concurso de Saltos Internacional de Obstáculos), realizadas em Lisboa e Madrid.

Embora tivesse nascido em Coimbra, sempre esteve ligado a Tramagal, onde reside. “O meu pai esteve muito tempo em Santa Margarida aquando da construção do Campo Militar”, conta o Coronel de Cavalaria que desde muito cedo tomou contacto com o mundo equestre. O cavalo é um “companheiro” que “sempre acompanhou o Homem na paz e na guerra”.

Tendo já sido homenageado em Abrantes, Vasco Ramires, 67 anos, pertence a uma família de cavaleiros que continua a somar vitórias no desporto hípico. “O meu tio-avô [General Carlos Ramires] participou no primeiro Concurso de Saltos Internacional Oficial de Lisboa”, realizado em 1911, exclama com orgulho o Coronel de Cavalaria que tinha sete anos quando começou a montar com o seu pai, o Coronel de Engenharia Vasco Ramires. Mais tarde, ingressou no Colégio Militar e, acompanhado pelo pai, competiu como júnior até 1954. Nesse ano, fez a sua primeira prova como sénior, no concurso das Pedras Salgadas. Várias vitórias começaram a compor o seu palmarés.

Em 1959, venceu duas provas no Internacional de Madrid e sagrou-se Campeão Nacional de Obstáculos com “Apache”, um dos cavalos mais ganhadores da sua época. Com a mesma montada conquistou, em 1960, a Taça Turf Club no Concurso Hípico Internacional Oficial de Lisboa. Muitas outras classificações se seguiram não só com “Apache”, um cavalo Lusitano, mas também com “Rovuma”. No Internacional Oficial de Madrid, de 1960, foi premiado com o “Apache” e ganhou duas provas com o “Rovuma”. Ainda no mesmo ano venceu, com “Vergel”, o Concurso Combinado no Nacional de Lisboa e, em 1968, voltou a conquistar o título de Campeão Nacional de Obstáculos, desta vez com “Namur du Payré”.

Para além destas, somou muitas outras vitórias em concursos nacionais e internacionais, tendo também competido em França, Itália, Suíça, Alemanha, Bélgica, Irlanda, Moçambique e África do Sul.

No entanto, foram os Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, que marcaram o seu percurso como cavaleiro. Foi “com grande emoção” e “orgulho” que representou Portugal. Individualmente, classificou-se em 37.º, mas, com “Sire du Brossais”, obteve o 13.º lugar na prova de obstáculos, fazendo equipa com Francisco Caldeira que montava “Flipper”, e Carlos Campos, de Rio de Moinhos, concelho de Abrantes, que montava a “Ulla de Lâncome”.

Um ano depois, o seu pai fundou a Coudelaria dos Vales, situada na Quinta dos Vales, em Tramagal. “O meu pai tinha um gosto imenso não só pela prática desportiva, mas também pela criação”, explica Vasco Ramires que triunfou com cavalos oriundos desta coudelaria. Ainda hoje, o Coronel de Cavalaria, na Quinta dos Choupos, e a sua irmã, Adelina Ramires, na Quinta dos Vales, dão continuidade “ao gosto que o pai tinha”, criando cavalos anglo-lusos e puros-sangue inglês. Por outro lado, esta é também uma “oportunidade” para os filhos e netos.

Cada prova uma emoção, cada cavalo uma história. O cavaleiro recorda a prova de potência do CSIO em Madrid, que venceu, em 1974, ex-aequo com Nelson Pessoa e Henrique Callado. “Era o mais novo” e o “extraordinário cavaleiro” brasileiro, Nelson Pessoa, “teve a gentileza de me entregar o prémio”. Foi também nesta prova que bateu o seu record ao saltar 2,05 metros. Histórias de outros tempos que hoje são pretexto para longas conversas.

“Os cavalos preparam-se à base do entendimento com o cavaleiro através de determinados exercícios, de acordo com uma doutrina, aos quais se alia a prática desportiva”. Este trabalho tem de ser “sempre consciente”, variando de acordo com a personalidade do cavalo. A cumplicidade entre cavalo e cavaleiro é necessária, mas o equilíbrio e a harmonia são fundamentais. Por outro lado, os cavalos “têm de ter o poder que as provas exigem” e os cavaleiros, para além do “gosto, têm de conhecer os pormenores de determinados aspectos relacionados com o desporto”.

Para além de “Apache”, “Sire du Brossais” e “Namur du Payré”, Vasco Ramires fala ainda de “Tea Top”, “Libby”, “Flipper”, “Remus”, “Labrador” e “Hussar”. Considera que os anglo-lusos são cavalos muito bons para provas de saltos, mas afirma que foi com os normandos selle francês e puros-sangue inglês que melhor se entendeu.

Fala humildemente do seu invejável palmarés, mas não esconde a vaidade ao elogiar os cavaleiros da sua família. De Vasco Ramires, o filho mais velho, destaca a sua participação nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, assim como o título de Campeão Nacional do Concurso Completo de Equitação. Também Rita Ramires, a mais nova dos cinco filhos, já conquistou um lugar de destaque entre os melhores, tendo recentemente vencido o Grande Prémio de Saltos, em Fronteira. O Coronel de Cavalaria faz ainda questão de não esquecer o sobrinho, Gonçalo Vilas-Boas, e os netos, em especial, Vasco Ramires, que herdou o nome e o gosto do pai, do avô e do bisavô. “Não é com tristeza, mas sim com muita alegria que damos lugar aos novos”, diz o Coronel de Cavalaria que também se dirige aos jovens cavaleiros: “Nem sempre as resoluções a longo prazo são erradas”, já que “levam a circunstâncias superiores àquelas que se tinham imaginado”.

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