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01 JUL 2007
VALDEMAR CONTENTE: NÃO CONSIGO VIVER SEM OS POMBOS
Por SÓNIA PACHECO

 

É um dos columbófilos mais antigos de Portugal e no seu palmarés contam-se mais de 200 troféus. Para Valdemar Contente os pombos são a sua vida.

 

“Fui campeão muitas vezes e nunca fiquei além do terceiro lugar”, declara orgulhosamente Valdemar Contente, um dos mais antigos columbófilos de Portugal. É natural de Tramagal, tem 72 anos e no seu palmarés contam-se mais de 200 troféus. Os pombos são a sua vida. Não consegue viver sem eles. 

Nasceu no mundo da columbofilia e começou por ser estafeta, ou seja, quando o pombo chegava, levava a anilha à sociedade columbófila. “Era estafeta do meu pai, um grande columbófilo”, declara, mostrando todos os relógios usados neste desporto, que guarda religiosamente. Um deles, de 1952, foi o primeiro relógio que veio para Tramagal.

Na altura, era obrigatório ter 21 anos para ser sócio da Federação Portuguesa de Columbofilia. “Mas podia ir para guerra matar sendo menor”, exclama Valdemar Contente que foi também director do Grupo Columbófilo de Tramagal “sem o poder ser”, ou seja, “o meu pai figurava como director e eu fazia o trabalho”.

Manteve uma sociedade com o seu pai até 1966 e, a partir daí, começou a praticar apenas em seu nome. Competiu com pombos “de grande nível”, “extraordinários, famosos mesmo” e, entre muitos, recorda o “célebre 555, um dos mais famosos” que passaram pelo seu pombal e que acabou por perder num treino no Alentejo. No entanto, o 99, da linha Janssen, é que foi o seu “Eusébio”. Ganhou três dedais de ouro (melhor voador), 7 anilhas de ouro no grupo columbófilo e 1 anilha de ouro distrital de meio-fundo. “O Eusébio teve dez irmãos e mais nenhum soube jogar à bola, mas os irmãos do meu pombo foram todos bons a voar”! Também a “super crack”, que ganhou 13 primeiros prémios, merece um lugar especial. Durante um treino, a pomba não regressou, mas nesse mesmo dia uma senhora encontrou-a já morta e entregou-a. Valdemar Contente embalsamou-a.

O columbófilo considera que as décadas de 60 e 70 foram “anos de glória”. Num dos anos, conquistou o primeiro lugar em todas as provas de fundo e, ultimamente, em dois anos consecutivos, duas das suas fêmeas ficaram entre as primeiras vinte do país em fundo, tendo ganho as grandes provas de Saragoça e Valência.

Valdemar Contente sublinha que foi do seu pombal que saíram os “grandes pombos da zona”. Chegou a ter uma centena de casais a reproduzir e, por ano, criava mais de 300 borrachos. “Houve uma altura que a minha colónia de reprodutores era das três melhores do país”. O columbófilo assegura também que teve as melhores linhas do mundo, como a Janssen, não só directos, mas também consanguíneos do Merckx e do Witoger, e a Herbots. Confessa que se entusiasmou “muito”, tendo importado uma grande quantidade de pombos e revela que o mais caro custou-lhe cerca 500 contos, em 1991. Era filho de um ganhador de Barcelona.

Já teve no seu pombal mais de meio milhar de pombos, mas hoje tem 400 e pretende reduzir para 200 ainda este ano. “Agora já estou no fim e a minha saúde também não permite prestar a assistência que devia”, lamenta, recordando os seus primeiros anos de columbófilo. Lembra que nem dormia nas vésperas das provas e revive o entusiasmo de ver os pombos chegarem, fazer-lhes “uma festinha”, tirar-lhes a anilha da pata e colocá-la no relógio manual. “Hoje já não tenho paciência para ficar muito tempo a olhar para o ar, mas continuo a gostar de os ver chegar”. Actualmente compete no Grupo Columbófilo de Tramagal, de que o seu pai foi um dos fundadores. Fez também parte das Sociedades Columbófilas de Abrantes e de Rio de Moinhos.

Mas, não é só vencer. Os treinos começam em Janeiro e, de terça a sexta, Valdemar Contente levanta-se às seis horas para, durante toda a manhã, treinar três bandos de pombos, tratar dos reprodutores e limpar os pombais dos voadores. “Os outros pago a quem os limpe”. À tarde treina as fêmeas viúvas. O ritual mantém-se até ao final das provas que decorrem, aos fins-de-semana, de Fevereiro a Julho. São 21 concursos, de velocidade (até 300 kms), meio fundo (até 500 kms) e fundo (até 1000 kms).

O columbófilo defende que as competições deviam começar mais cedo, já que o calor é o pior inimigo dos pombos. “Com o frio os pombos dão tudo”, mas com o calor perdem-se muitos. No ano passado, numa só prova perdeu 12 pombos, “três eram dos meus melhores”. Para além do calor, também as aves de rapina são um problema. “Já me têm vindo buscar borrachos ao quintal”.

Profissionalmente, trabalhou na Metalúrgica Duarte Ferreira e esteve 13 anos, no Porto, a trabalhar por conta própria, mas sublinha que são os pombos a sua vida e a sua família. “Não consigo viver sem eles”. Para além dos cuidados inerentes ao desporto, são o “carinho” e a “atenção” que fazem a diferença. Muita dedicação e muitas horas de observação levaram Valdemar Contente a conhecer bem cada um deles. O columbófilo regista ainda todos os seus pombos, ascendência, descendência, datas de nascimento, compra, venda… “Tenho tudo escrito”, exclama com um sorriso exibindo os seus cadernos de apontamentos.

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