Quis ser toureio a pé, mas confessa que “não tinha coração” para tanto, optou por ser forcado. Os anos começaram a pesar, deixou a forcadagem, continua ligado aos toiros, mas na sua tertúlia na Golegã.
Paulo Caixinha pegou de caras, foi ajuda, rabejador e cabo de grupo. Pegou nos grupos da Golegã, já extinto, e no de Lisboa e no corpo sente as mazelas das muitas cornadas que levou.
“Dentes e costelas partidas nem sei quantos foram, mas nunca se esquece”, diz com alguma saudade da adrenalina que lhe percorria o corpo sempre que chegava à altura de saltar a trincheira, compor o barrete e a jaqueta e enfrentar o touro. Foram 17 anos de forcado.
“A pior colhida foi em França, fi quei dois dias quase em coma. Quando acordei, a pouco e pouco lá me fui lembrando do que me tinha acontecido”. Ao rol das tareias que apanhou nas várias praças, soma um braço partido, traumatismo craniano e as lesões na coluna.
“É uma maneira de estar na festa. Os toureiros recebem, nós contentamo-nos com um sorriso numa cara bonita ou uma fl or. Depois da corrida a festa é nossa”. Conta com orgulho que durante os anos que esteve como cabo de grupo dos forcados da Golegã fez parte dos cartéis com alguns dos maiores grupos nacionais Santarém, Montemor, Lisboa.
A ideia de criar uma tertúlia – “Taverna do Forcado”, numa das ruas principais da Golegã – não nasceu após abandonar a forcadagem. “Tive sempre esta ideia, consegui. E, apesar dos condicionalismos e exigências actuais, acho que criei um espaço muito agradável para toda a gente e, especialmente, para a malta ligada aos toiros e aos cavalos”.
As paredes estão revestidas de cartazes e fotografi as da festa brava. O plasma por cima do balcão transmite as corridas das feiras de Madrid, de Sevilha. “Nessas alturas, é sempre casa cheia”.
O barrete que o acompanhou em todas as corridas, serve agora de objecto de adorno e, por detrás do balcão lá está a jaqueta. “Ela podia contar tragédias e glórias”, diz com emoção Paulo Caixinha, agora com 45 anos.