A ferraria ou a correaria são ofícios indispensáveis ao mundo equestre. No entanto, são muito poucos aqueles que continuam a dedicar-se a estas artes.
UM FERRADOR...
Primeiro vê-se o temperamento do animal. Se o cavalo for nervoso é preciso delicadeza, falar com ele e acarinhá-lo. Depois pega-se na pata, arranca-se a ferradura velha e prepara-se o casco que é limpo e cortado com um formão. “O casco cresce como uma unha”, explica o ferrador. A nova ferradura é posta a jeito e os cravos são pregados. Finalmente, o casco é “grosado”, ou seja, limado. Ao fim de mais de uma hora de trabalho, o cavalo está ferrado.
“É preciso muita paciência e jeito”, afirma Joaquim Morgado que, aos 82 anos, ferra apenas alguns cavalos do Rossio ao Sul do Tejo, em Abrantes. “O meu pai também era ferrador e quando nasci disseram logo que tinha nascido um ferrador”. E assim foi. Aos nove anos já “tocava o fole” para manter a força do lume que aquecia o ferro para fazer as ferraduras. O seu pai ia a Lisboa e trazia as chapas dos cascos dos navios, com 1,5 centímetros de largura e cinco milímetros de grossura. Depois eram cortadas e forjadas. Aquecia-se o ferro e manipulava-se a ferradura na bigorna. Eram produzidas dez ferraduras por hora, feitas à medida dos cascos dos animais.
Aos catorze anos ferrou pela primeira vez. “Lembro-me tão bem como se fosse hoje. O meu pai é que começou, ajeitou as ferraduras e eu acabei de ferrar a égua”. Antigamente havia cavalos que tinham de ser ferrados todas as semanas. Hoje, os cavalos de desporto, por exemplo, são ferrados de mês a mês.
... E UM CORREEIRO
A macia madeira de faia é enformada e trabalhada. Procede-se à ferragem do vaso da sela e aí se aplicam umas molas de aço para fazer a articulação e dar mais comodidade ao cavaleiro. Depois o vaso é estofado e são colocadas as abas, os arções e as tachas. Por fim, o suadouro, a parte da sela que fica em contacto com o cavalo, é cheio com cabelo de cabra depois de bem tratado. “É muito melhor que produtos sintéticos para a transpiração do animal”, explica Carlos Silvério.
A correaria do Pombalinho, bem junto à Azinhaga (Golegã), já conta com mais de 70 anos e lá se fabrica todo o tipo de artigos de equitação, em especial, selas à portuguesa, selins e selas à Relvas. Cada um destes artigos demora cerca de um mês a construir. “É preciso estar muitas horas de volta de uma bancada”.
Segundo o correeiro, enquanto que as selas à portuguesa são fabricadas com arções trabalhados, cabedal, camurça e tachas, um selim à inglesa, por exemplo, é produzido à base de peles mais lisas. As primeiras “estão mais relacionadas com as nossas tradições, é a sela que se utiliza no toureio”, o segundo “é um selim para trabalho de picadeiro”. Quanto às selas à Relvas podem ser para trabalho de picadeiro, ou para apresentar um cavalo. “No fundo é o misto de um selim à inglesa com uma sela à portuguesa”, diz o correeiro que afirma ter encomendas para toda a parte do mundo. “Não há capacidade de resposta”.