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01 NOV 2007
CRIADORES POR PAIXÃO
Por SÓNIA PACHECO

 

De coudelaria para coudelaria, os cavalos são criados para diferentes finalidades desde a equitação tradicional ao desporto. Porém, em todas há o mesmo sentimento de criar por paixão.

 

Há princípios comuns. É fundamental a alimentação da égua até à nascença do poldro e este acompanha a mãe até aos oito meses. Depois de separados, é-lhe colocado o ferro da coudelaria. Também nesta altura faz o seu primeiro estágio, ou seja, começa a ser manuseado. Volta para o campo e aí fica até aos três anos. Mas durante esse tempo, recolhe duas vezes por ano à cavalariça. Nesses períodos, cerca de quinze dias, é “mexido” para se habituar às pessoas. Depois dos três anos inicia-se o desbaste e é ferrado. Os poldros são vacinados anualmente
contra o tétano e a gripe equina e desparasitados duas vezes ao ano.

 

Lusitano: o cavalo ideal

Muito apreciados por estrangeiros, os Lusitanos são considerados pelos criadores cavalos nobres, de carácter, bonitos, finos e dóceis. De chanfro acarneirado, chegam ao 1,62 metro e são muito fáceis de montar. Especialmente destinada ao toureio, ensino, equitação de trabalho e lazer, é a raça dominante das coudelarias da Golegã.

A criar cavalos há 180 anos, a Coudelaria Veiga, situada na Quinta da Broa, imprimiu um cunho muito próprio aos Lusitanos, constituindo uma das principais linhas da raça. “Há até quem considere que nós temos uma sub-raça”, refere Manuel Veiga, explicando que os cavalos começaram a ser seleccionados não só pela beleza, morfologia ou carácter, mas também pela funcionalidade. É uma coudelaria que utiliza os próprios garanhões e, por isso, é indispensável muita sensibilidade para se “jogar com as linhas” e, consequentemente, para melhorar a raça. Com um efectivo de 25 éguas de ventre, são criados seis a nove cavalos machos por ano.

Considerando ser essencial a divulgação do cavalo lusitano no estrangeiro, Manuel Veiga afirma que a sua coudelaria “tem sido importante para outros criadores”, além disso, os cavalos Veiga têm-se destacado no mundo equestre. Para além das muitas montadas fornecidas a inúmeros cavaleiros tauromáquicos, houve “um cavalo Lusitano Veiga a fazer saltos de obstáculos”. O Novilheiro fez parte da equipa inglesa nesta modalidade e foi campeão britânico.

Da Coudelaria de João d’Assunção Coimbra, fundada na Azinhaga, no início do século XX, surgiram dois criadores. O seu neto Manuel Assunção Coimbra mantém a linha original que teve como base éguas do Marquês de Castelo
Melhor, mas, para o seu bisneto, José Castro Canelas, a criação de Lusitanos não é a principal vertente.

Na Assunção Coimbra existem cerca de 20 éguas e, anualmente, são criados quatro a seis cavalos machos. Os garanhões, oriundos do próprio ferro, “têm de ser de uma linhagem boa, morfologicamente bem feitos, com bons andamentos e montam-se para serem testados”. Segundo Manuel Assunção Coimbra, o Lusitano é “o cavalo ideal”.

Já na Quinta de Santo António, a linha original foi extinta nos anos 60, mas a Coudelaria Canelas, recomeçou, há uns anos, a criação de Lusitanos. Actualmente, existem quatro éguas de ventre que são levadas a garanhões de outros ferros como Manuel Veiga, Assunção Coimbra, João Veiga Maltez ou Rui d’Andrade. “Os Lusitanos têm uma aptidão fantástica para aprender, dão uma resposta quase intuitiva ao que nós pretendemos deles e, quando são bons, antecipam aquilo que vamos pedir-lhes”, atesta José Castro Canelas.

 

Anglo-Luso: uma raça melhorada

O desporto requer um cavalo versátil, com mais aptidão para saltar ou para correr. É o caso dos cavalos cruzados, como, por exemplo, o Anglo-Luso que resulta do cruzamento entre Lusitano e Puro-sangue Inglês.

“A cabeça do Lusitano com as capacidades físicas do cavalo com sangue inglês dá uma raça melhorada”, explica José Castro Canelas, revelando que criar cavalos, “é um desafio”. “Ao contrário de outras espécies de animais das quais poderemos ter carne ou leite, com a criação de cavalos queremos um físico perfeito associado a uma boa cabeça”, ou seja, um bom temperamento.

Na Quinta de Santo António, existem duas éguas Anglo-Lusas que dão continuidade a esta criação iniciada pelo seu pai que, na altura, praticava desporto a cavalo. Hoje, também os filhos fazem saltos de obstáculos, concurso completo de equitação ou atrelagem, com cavalos desta coudelaria. “A Onu, por exemplo, foi, com o meu irmão, campeã nacional de concurso completo de equitação”.

Já em Abrantes, com cerca de dez éguas de ventre, a Coudelaria da Quinta dos Vales, em Tramagal, cria, exclusivamente, cavalos vocacionados para o desporto. “O meu avô, Vasco Ramires, começou, nos anos 50, a criação de cavalos a partir de éguas Puro Sangue Inglês e cruzadas Anglo-Lusas, mas sempre à procura das melhores genealogias para obter um cavalo cada vez mais nobre”, refere Gonçalo Villas Boas.

No entanto, o criador considera que as suas éguas “já têm muito sangue inglês”, por isso, “queria voltar atrás, cruzando éguas Anglo-Lusas com Lusitanos”. Nesta Coudelaria, de onde saíram ganhadores como Nuryev, Blue Gun dos Vales ou Massima dos Vales, pretende-se criar cavalos com “boa cabeça, que ajudem o cavaleiro, que reajam bem ao treino e que tenham bons andamentos e boa técnica de salto”.

Gonçalo Villas Boas sublinha ainda que a Coudelaria dos Vales foi também iniciada com Puros Sangue Inglês, “já a pensar nas corridas de cavalos”. O criador lamenta que, em Portugal, nunca se tenha gerado esta indústria que permitiria desenvolver o mundo dos cavalos.

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