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01 DEZ 2006
MANTER A TRADIÇÃO
Por SÓNIA PACHECO

 

No Lagar da Quinta da Abrançalha (Abrantes), António Chaleira faz questão de continuar a produzir azeite pelo método tradicional. “Aqui fabrica-se bom e com qualidade”, afirma orgulhoso

 

Depois de limpa à tarara, a azeitona é pesada e levada para o lavadouro. Sobe ao sem-fim para o moinho de martelos e, depois de moída, cai numa batedeira horizontal. De seguida, com a máquina de enseirar, a massa é espalhada em capachos de nylon que, posteriormente, são empilhados e postos na prensa durante, pelo menos, meia hora.

Um líquido escuro e oleoso começa a escorrer para as tarefas e aí fica até ao dia seguinte, porque tal como a verdade, o azeite vem sempre ao cimo da água. Na centrífuga, o azeite é purificado para tirar alguma impureza que ainda tenha e depois é armazenado nos depósitos para ser medido. É esta a faina que se repete dia a dia sob o olhar atento do mestre do Lagar da Quinta da Abrançalha.

As máquinas foram preparadas no início de Novembro e durante cerca de mês e meio seis pessoas trabalham afincadamente para que não escape nenhum pormenor. Entre conversas que relembram os velhos tempos, fazem-se os ajustes necessários para se poder receber a azeitona que, entretanto, vai chegando lá fora. É grande a azáfama.

Começou por ser um lagar de varas. Desses tempos preservar o cheiro quente do azeite e, apesar das prensas hidráulicas e da centrífuga, continua a utilizar-se o método tradicional. “Todos querem que eu continue com isto assim e eu continuo”, declara António Chaleira, o proprietário da quinta. “Não quero a linha contínua porque prepara-se o azeite a poder do calor. Aqui é trabalhado só a morno, nunca é escaldado e assim nunca se queima qualquer proteína que o azeite tem”.

Outra diferença relativamente aos modernos lagares consiste no facto de se deixar o azeite separar-se por ele próprio, ou seja, é deixado nas tarefas e só no dia seguinte é retirado. “O que foi moído ontem só é tirado hoje à noite para purificar por ele próprio e não ser preciso escaldar”, explica o lagareiro revelando um dos principais segredos do bom azeite.

“Aqui fabrica-se bom e com qualidade”. Orgulhosamente, conta que já houve clientes que reclamaram e ele simplesmente respondeu: “Não sei fazer azeite para a vossa boca, portanto vão a outro lado”. No entanto, “voltaram cá”, acrescenta com uma enorme gargalhada.

Seguindo as pegadas do pai que, em tempos, explorou o mesmo lagar, António Chaleira arrendou-o em 1972 e seis anos depois tornou-se proprietário. “A minha vida foi sempre no campo. Tenho ovelhas, tenho tudo. É na lavoura que trabalho o resto do ano”. Hoje, passadas três décadas afirma que só deixará o lagar quando não puder mesmo olhar por ele.

Para António Chaleira, 78 anos, o dia começa às cinco da manhã. Prepara o lagar e vai buscar os trabalhadores para mais uma jornada. Diariamente, são transformados cerca de cinco mil quilos de azeitona. Depois das 17 horas, “tenho uma rapaziada que vem fazer mais umas horas” e a produção aumenta significativamente. Cerca da meia noite o lagareiro regressa a casa para um merecido descanso.

“Este ano a azeitona é muita e já cheguei a ter 20 toneladas só num dia”! Para além dos fornecedores que tem no Alentejo, muitos produtores da região depositam aqui a sua azeitona para, mais tarde, virem buscar o seu azeite.

Em meados de Dezembro, o lagar mergulha num longo silêncio para no próximo ano receber mais uma azafamada época. 

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