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10 MAI 2012
REFLEXOS DA CRISE
Depressão, ansiedade e desespero
Por MARGARIDA TRINCÃO

 

Não há volta a dar. As pessoas estão mais tristes e depressivas, mesmo quem diariamente luta para se manter à tona e alimenta o optimismo. Porque em crise anda este país há longos anos. Entretanto o Sistema Nacional de Saúde não dá resposta aos casos que diariamente vão surgindo.

 

Sofia Loureiro, psicóloga clínica particular, não nota um aumento do número de pacientes que procuram o seu consultório, mas os casos que surgem são de maior gravidade.
“Não posso garantir, mas as pessoas não têm dinheiro, vêm uma vez e não voltam. No entanto, é um facto que os casos que me surgem são mais graves”, afirma. Os problemas são sobretudo depressivos, de ansiedade e desespero.
Sentimentos de quem não consegue fazer frente à situação familiar ou de trabalho. “São causas externas que não conseguimos resolver, o nosso trabalho é tentar potencializar os recursos internos”, opina Fátima Carvalho, psicóloga clínica que dá consultas na Extensão de Saúde de Alferrarede (Abrantes). A única da sua especialidade no ACES do Zêzere, a que pertencem os concelhos de Abrantes, Constância, Sardoal, Vila Nova da Barquinha, para além de Ferreira do Zêzere e Tomar.
No entanto, só os doentes de Sardoal, Constância e Abrantes são referenciados para as consultas de Fátima Carvalho. “A nível de número de pacientes não houve aumento, também porque não tenho capacidade para mais e os médicos só encaminham as patologias que eu referenciei. Uma única técnica é manifestamente insuficiente”.
As patologias são diversas, mas “nos últimos seis meses as causas são sobretudo externas, em que as pessoas se sentem fragilizadas para fazer face às situações”. Problemas que o psicoterapeuta só pode ajudar aumentando a auto-estima dos seus pacientes.
A maioria dos utentes situa-se na faixa etária dos 35 aos 60 anos e são sobretudo mulheres. “Há vários factores que contribuem para que as mulheres recorram mais aos psicólogos. Características emocionais, o facto de terem que resolver muitas coisas na altura. Mais exigência a nível familiar, profissional e vão acumulando os problemas… Os homens utilizam outras estratégias e, por vezes, com consequências mais graves, mesmo a nível de saúde física porque somatizam mais os problemas”.

 

Maior número de internamentos

No hospital de Tomar, uma das três unidades que integram o Centro Hospital do Médio Tejo (CHMT), o número de internamentos têm vindo a aumentar desde que a valência foi inaugurada.
O Serviço de Psiquiatria funciona desde 2002 com as valências de Consulta Externa, Hospital de Dia e Urgência e em 2007 foi inaugurado o Internamento, com capacidade para 24 doentes. As camas estão organizadas em enfermarias e quartos individuais, um dos quais destinado ao isolamento de doentes auto e hetero agressivos.
Luísa Delgado, psiquiatra, é a directora deste serviço e, embora não possa afirmar que o número de utentes esteja relacionado com a crise – “não há dados científicos que o comprovem” – o facto é que os internamentos têm vindo a aumentar.
“Como cidadã poderei dizer que desde 2008, quando rebentou a ‘bolha’ nos Estados Unidos, houve repercussões. Actualmente o impacto do encerramento das indústrias, o desemprego, a par das mudanças a nível social, agrava as situações”.
Os medicamentos não resolvem todos os problemas e muito menos quando não há dinheiro para adquiri-los: “Se as pessoas não têm dinheiro para pagar a renda da casa, como é que podem comprar medicamentos?… E voltam às consultas”.
O número de utentes aumenta e só com “grande esforço” dos profissionais deste serviço as listas de espera têm dois a três meses. “Nós não consultamos 10 doentes por dia, fazemos 20, 30 consultas”, continua Luísa Delgado.
Neste serviço de Psiquiatria, trabalham oito psiquiatras, um pedopsiquiatra, três psicólogos, duas terapeutas, uma assistente social, enfermeiros e auxiliares.
“Haverá regiões que poderão estar pior do que nós, mas tudo isto tem que ver com a má distribuição dos médicos, que estão concentrados nos hospitais centrais”.
Se por enquanto não há estudos que possam estabelecer causa-efeito entre a crise e a saúde mental (parente pobre e estigmatizado), o bom senso leva a concluir que estamos cada vez mais tristes. Como recentemente afirmava uma jornalista que visitou a Grécia, onde não ia há três anos: “os gregos estão cada vez mais tristes”.

 

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