Dantes era terra rural. A agricultura e a floresta forneciam alimentos bastantes para as gentes desta freguesia de Abrantes paredes meias com a Albufeira de Castelo do Bode
Aurora Tanqueiro Martins não nasceu em Aldeia do Mato, foi um pouco mais abaixo em Rio de Moinhos. “Eu e os meus seis irmãos nascemos em Rio de Moinhos”. Com três anos mudou-se com a família para a margem oposta do Tejo e até 1946 viveu no Tramagal. Depois, regressou à terra dos seus avós. Casou e continuou o negócio da família: uma mercearia com taberna, hoje transformada em café e mini-mercado.
“Dantes isto não era nada assim. Havia rebanhos de cabras, juntas de bois, a aldeia tinha muito mais gente… Era uma vida diferente”, conta Aurora Martins sem se esquecer de referir que as mulheres eram muito sacrificadas: “Os homens iam para as madeiras, para outras terras e eram elas que cuidavam da agricultura, da casa, dos filhos, das roupas, não se esqueça que dantes a roupa era toda feita em casa”.
Por detrás do seu balcão, Aurora Martins ouviu muitas histórias. “Esta loja é a mais velha da aldeia, tem mais de 150 anos, já era do meu avô Paulo Tanqueiro”.
A denominação de Café Esteves foi decidida pela filha de Aurora, Conceição Esteves que prossegue o negócio. “Foi o meu pai que me arranjou o café e como era Esteves, achei que o café devia ter o nome dele”.
Hoje a Aldeia de Mato com as ruas limpas, as habitações cuidadas conhece outras dinâmicas. “É tanta gente a caminho do Clube Naútico, são só carros para baixo e para cima. Não param tanto como deviam, mas há muito movimento. E ainda bem porque na Aldeia são só velhos”, continua Aurora Martins.
E desfia histórias a lembrar outros tempos. As matanças que reuniam toda a família, os jogos do vintém com a rapaziada e quem perdia pagava meio litro, os cartuchos – “arrates” e “meios arrates” – as cartas. “Chegamos a despachar cinco malas de correio. Outros tempos…”