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26 ABR 2012
SAÚDE
Olhe, desligue lá esse gravador!
Por MANUEL ANTÓNIO

 

Se há momentos da nossa vida em que minutos parecem horas e horas parecem dias, é quando a saúde falta e aguardamos em filas ou salas de espera, pela consulta ou atenção que merecemos. Com os novos médicos entretanto chegados aos Centros de Saúde, os tempos de espera reduziram substancialmente, mas ainda há várias situações por resolver e muitos utentes “enjeitados”

 

O triste espetáculo de há meses, em que dezenas de pessoas chegavam de madrugada para conseguirem uma consulta de recurso no Centro de Saúde de Abrantes faz parte do passado. No entanto, as filas e as esperas continuam e, por aí afora, ainda há muita gente onde o seu médico de família partiu para não mais voltar. Nessas situações, as consultas de recurso, as urgências do hospital e os privados são o desenrasca de muita gente que se sente abandonada.
“Pois é, dava-nos imenso jeito se o médico continuasse lá”, diz Maria José Bairrão, de 76 anos, do Vale das Mós. “Agora as pessoas tiveram que inscrever-se na Bemposta. Mas… e o transporte”? Pois, acrescenta o marido, Joaquim da Silva Bairrão, 78 anos: “A Câmara devia assegurar o transporte, mas… Por isso é que nos inscrevemos aqui no Centro de Saúde de Abrantes. Eu pertenço à Comissão de Utentes lá no Vale das Mós e em tempos até fomos reunir com o Diretor do Centro de Saíde. Ele disse que, se fossem dois médicos para Bemposta, um deles iria para Vale das Mós, mas até hoje… E na reunião que tivemos com a Câmara, a senhora presidente disse que tínhamos que pedir transporte à Junta de Freguesia de Bemposta.
Como não há médico de família lá na terra e como não há médico todos os dias lá na Bemposta, as pessoas quando precisam duma receita vão ao particular e têm que pagar 10 euros para lhes passarem uma receita”.
“Ai sim! No Pego são cinco euros”, diz Manuel Martinho, de 67 anos, do Pego.
- Quer dizer que também não têm médico de família no Pego? É por essa razão que estão aqui?
- Bem, agora já há médico, mas estamos inscritos aqui em Abrantes porque há tempos o Pego ficou sem os dois médicos de família. Nessa altura inscrevemo-nos em Abrantes e cá continuamos. Agora já lá há médico: um estrangeiro. Um rapazinho novo, mas as pessoas gostam muito dele, presta bons serviços.
E continua: “Sabe, o Estado também tem razão, é muita gente a comer, onde é que o Estado vai buscar tanto dinheiro para pagar a esta gente toda? Eles querem é acabar com tudo, o que eles querem mesmo é acabar com a gente. Porque é que a gente há-de ir fazer exames para Lisboa ou para um clínica privada?”
É verdade, responde a esposa, Alice de Jesus, 66, doente oncológica e a quem tiraram o dinheiro do transporte. “Íamos à Rodoviária buscar uma declaração com o preço do transporte e eles dava-nos essa ajuda. Sempre com atraso, mas ajudavam, agora nada”.
“Oh senhor desligue lá isso para a gente falar à vontade” diz Manuel Martinho.
- É porque há interesses de alguém, se não houvesse… Este hospital, com este tamanho, porque é que não se faz aqui tudo? Há muitos interesses… Esse senhor, que hoje é Presidente, quando era Primeiro Ministro, a quem tivesse 30 anos de descontos dava mais 20% para ficar com os 36, e ficava com a reforma por inteiro. Agora não há dinheiro!”
Alice corrobora e Manuel continua: “Fui emigrante na Alemanha e se estava doente era logo tratado, ficava bom ia trabalhar. Aqui não, andamos um mês ou dois à espera de exames. As pessoas, mesmo com dificuldades, têm que pagar do bolso. Por exemplo, se aos fins de semana não há médico de família, porque razão temos que pagar taxa moderadora para ir à urgência do Hospital se não temos alternativa?!”

 

A angústia da espera

Também é por falta de alternativa que José Neto, de 49 anos do Vale das Mós, veio acompanhar o pai às urgências. “Não temos médico de família lá na aldeia. Está mal, pois as pessoas com mais idade, geralmente não têm transporte e têm que pagar táxi. E outra coisa, mesmo agora o meu pai se estava a queixar do preço da taxa moderadora. Paga-se quase o mesmo que ir à consulta particular lá na Bemposta.”
Para Marlene, de Abrantes e com 18 anos, não é a taxa moderadora na urgência que a faz desesperar, pois está isenta, mas com todo o sofrimento estampado no rosto desabafa: “só venho aqui na última e depois estamos tanto tempo à espera”.
Igual queixa é apresentada por Paulo Fernandes, de 42 anos, de Abrantes: “Demasiado tempo de espera, já no Centro de Saúde é um espetáculo, não tenho qualquer razão de queixa”.
Mas para Fernando Serras, de 39 anos, de Mouriscas, a espera para a consulta de recurso já vai longa.
Entretanto a funcionária chega-se ao balcão e em voz firme e decidida informa: “O médico de recurso já não atende mais ninguém. Se quiserem ser atendidos só na parte da tarde”.

 

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