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07 JAN 2016
Os barcos do Pego de Abrantes
Por Carlos Clara (Torres Novas)

Na época das sementeiras, com ares de Primavera, as águas do Tejo deslizavam deslumbrantes, para os lados de Abrantes. E contagiavam tudo de esplendor, em torno de si.

À tardinha levantava-se uma aragem que acariciava as águas em manchas de ondulação, e fazia dançar os salgueiros na mesma melodia. Era então que aparecia lá longe qualquer coisa avermelhada, entra as águas cintilantes de sol e o verde da margem sul. Aproximava-se lentamente, à distância. E lentamente também, percebia-se que era uma vela latina de um vermelho debotado, quase rosa. Depois aparecia uma segunda qualquer coisa vermelha no mesmo sítio onde tinha aparecido a primeira, e à medida que a tarde se ia escoando, aparecia outra, e depois mais outra, até serem seis ou sete.

Eram os pescadores do Pego que subiam o rio ao fim da tarde, para descerem a pescar durante a noite.

Dizia-se que eram descendentes de pescadores provenientes do litoral e que ali se fixaram há muitos anos, fundando a aldeia. Não sei. Nem sei se há alguém que saiba a história ou saiba ler os registos genéticos que existem dentro de nós. O que sei é que aquela gente tinha qualquer coisa do antigo Egipto. Do Nilo.

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