No dia 1 de Maio de 1886, eclodiu nas ruas de Chicago, nos EUA, uma manifestação de trabalhadores que reivindicavam a redução do dia para 8 horas de trabalho, dando origem a uma greve geral no país. Em 1920, a URSS adoptou essa data como feriado nacional. Ainda hoje o governo dos EUA não reconhece o 1º de Maio como o Dia do Trabalhador.
Se Abril abriu o caminho da liberdade a um Portugal vincado pela ditadura, a grande data da luta operária será sempre o 1º de Maio. Antes ainda da liberdade, a data já era comemorada um pouco por todo o país. Durante o Estado Novo, a celebração deste dia era reprimida pela polícia. O que não impedia que a data fosse celebrada nalgumas terras.
Apesar da realização da “festa proibida”, nunca houve qualquer tipo de punição para a MDF ou os seus proprietários.
Uma Luta Operária
Não só no Tramagal a luta operária desafiava os ditames da ditadura. Em Torres Novas, várias indústrias são referenciadas ao longo dos anos por causa das lutas dos seus trabalhadores: Metalúrgica do Nicho, da Costa Nery, Metalúrgia da Videla, a rodoviária dos Claras ou coisas tão vagas como “os operários duma empresa em Barreira Alva”, como regista a obra “Canções de Liberdade”, editada pela Câmara Municipal de Torres Novas em 1994.
Desde cedo a luta operária se mostrou bastante efectiva em Torres Novas. Na mesma obra há a referência a “prisões relacionadas com a luta dos trabalhadores agrícolas da Brogueira, por melhores jornas (salários)”, em 1939.
Se a luta não escolhe datas, a verdade é que o 1º de Maio sempre foi dia de paralisação em algumas indústrias, como é conhecido o exemplo da Metalúrgica Costa Nery. O aparelho de Estado estava atento a essas movimentações, como prova a circular confidencial da Legião Portuguesa que ordena a constituição de um sistema de vigilância e identificação durante o 1º de Maio de 1970.
Em 1973, há registo de trabalhadores dos transportes Claras “exigindo aumento de salários” e da Metalúrgica Costa Nery em que “cerca de 400 trabalhadores”, exigindo o mesmo, “paralisam o trabalho durante 45 minutos”.
Tudo isto vem provar que a luta pela liberdade começou e sempre se fez perdurar na luta pelos direitos dos trabalhadores. Enquanto a ditadura calava todos os medos, era no 1º de Maio – e tudo o que ele representa – que a liberdade sobrevivia. À custa de nomes como o de João ‘Espanhol’, que entrevistamos nesta edição, e várias vezes aparece referenciado nestas lutas.
A 25 de Abril de 1974, no mesmo dia da revolução, a concelhia torrejana do MDP CDE (Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral), emite um comunicado onde “exige de imediato”, entre outras, “o restabelecimento de todas as liberdades democráticas, incluindo as sindicais e o direito à greve”. A luta de Maio sempre existiu, em Abril ganhou forma.