Uma noite de inverno vieram dois homens de gabardinas escuras e disseram-me para eu subir ao farol porque precisavam de falar e fazer algumas perguntas ao meu companheiro. Quando voltei a descer já não os encontrei, nem a eles, nem ao homem de quem gostava... nunca mais soube dele.
São ainda, ou pelo menos foram, os vigilantes atentos e serenos da costa lusitana. Os olhos de lobos bondosos que brilham, ou pelo menos brilharam com fogachos acesos, lanternas e candeeiros a azeite. (...)
Todos têm uma missão comum, orientar as embarcações na costa ou junto aos portos, mas cada um tem a sua história, a sua personalidade e assistiu impotente a dramas humanos incalculáveis. (...)
Não é sonho de estudante ser faroleiro, mesmo que viver no farol seja quase viver num lugar mágico, numa ilha plantada no céu, e mesmo que hoje a torre seja visitada por mais gente que o carteiro e o vendedor de peixe.
Não é sonho de ninguém ser faroleiro, mesmo considerando o mistério da profissão que nunca foi de muitos, e muito menos será sonho para alguém ser filha de faroleiro. Maria dos Anjos foi-o sem nunca o desejar, porque ser filha é condição que também não se escolhe. Nasceu, cresceu e tornou-se mulher em faróis, tantos que a sua memória septuagenária já não pode recordar na totalidade. (...)
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