As “bonequinhas de Constância” são uma tradição que nasceu do desejo de dar algo às meninas pobres para brincarem. Mariazinha Bento sobrevive como uma das últimas artesãs – senão a última – deste ex-líbris da vila. Para si, as bonecas vão além da arte: são como família.
A delicadeza na voz e nos gestos de Maria da Conceição são um espelho das bonecas que confecciona. Maria da Conceição de baptismo, Bento pelo matrimónio, Mariazinha – como gosta de ser tratada – por afeição. Mariazinha, com 76 anos, é por ventura a última sobrevivente da longa tradição de construir bonecas com canas e tecido. (...)
“Era um miminho que os pais davam às meninas pobres para brincarem”, explica Mariazinha. Utilizavam “o que tinham” para a construção: “Faziam a estrutura com canas, o cabelo era lã de ovelha de um colchão ou de uma almofada, os braços faziam com restos de postais usados mas o fato era difícil porque não tinham dinheiro para comprar tecidos, então usavam lençóis ou faldas das camisas dos homens que já não usavam”, conta pormenorizadamente. “Engomavam, com goma, para dar aspecto de novo e tingiam com anilinas de várias cores”, dando assim um ar brilhante a restos de vários utensílios que agora eram a alegria das mais novas. (...)
A grande diferença das bonecas que faz para as que via fazer enquanto criança é apenas no tecido. “A estrutura é toda a mesma, mas hoje em dia já compro o tecido da cor que quero, não uso anilinas para tingir”, embora faça questão de sublinhar que chegou a fazê-lo. Tem orgulho na autenticidade da sua obra pois “isto é um trabalho de criação, não há duas bonecas iguais”. (...)
A dor que marcou a sua vida fez com que se entregasse muito a si própria, vivendo com as suas bonecas e para as suas bonecas. (...)
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