Tempos houve em que boa parte do país estava fascinada pelo mistério dos casulos e pela riqueza da arte milenar da sericicultura. Tanto, que repetidas disposições régias foram impondo o cultivo de amoreiras para garantir a prosperidade da indústria em todo o país.
Está a começar a primavera. A chegada das andorinhas é um marco, mas eu sempre tive outras referências adicionais que validam esta chegada do renascimento de cada ano. As amoreiras a rebentar em folha e a eclosão de uns minúsculos bichos-da-seda no fundo de uma caixa de sapatos guardada do ano anterior, são também dois bons indicadores, e até com os seus dramas. Por esta época, em todos os anos que levo como professor, há sempre um grupo de jovens que no final da aula se junta no fundo da sala, com alguma caixa de calçado com uns furos na tampa e nas faces laterais que levam para a escola, e conferenciam durante breves momentos entre si. (...)
Cheguei à angústia de acordar a meio de uma noite para ir verificar se ainda havia algum limbo vegetal para eles roerem. De outra vez, a amargura foi mais metafísica. E se deixasse de haver folhas de amoreira em Abrantes e nas redondezas, o que é que eu faria da minha unidade industrial caseira sem subvenções da União Europeia nem seguro contra calamidades? (...)
Recordo também os episódios, alguns deles um pouco picarescos, de quando, muitos anos depois, com as minhas filhas, que também sentiram a emoção de terem um regimento de bichos-da-seda a seu cargo e a devorar diariamente quilos de folhas de amoreira, tive de cumprir com o meu “serviço cívico”… O de ter de percorrer mais de vinte quilómetros de cada vez para encontrar uma árvore capaz de sustentar por dois dias a dieta inquietante duns ternos exemplares da Bombyx mori L. residentes no rés-do-chão de uma gaveta da secretária lá de casa, e de cuja sobrevivência elas se consideravam empossadas e responsabilizadas pelos deuses gregos. (...)
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