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08 MAR 2021
OPINIÃO | "Racismos", por António Carvalho
Por Jornal Abarca

A morte de Marcelino da Mata levantou mais uma polémica político-futebolística em que se sabe, de antemão, que a culpa foi do árbitro. Escrevo há muitos anos na Abarca e procuro ser imparcial ao recordar a Guerra de África, embora os que me lêem saibam que sou do Sporting, isto é, que não sou vermelho.

Em Abril, escrevi ”Não consigo entender o sentido de ‘dívida histórica’ escrito por Mamadou Ba. Se significa “algo que roubámos e temos que pagar”, tenho que lhe pedir para ser menos político e mais honesto intelectualmente, não esquecendo o outro prato da balança. Os Portugueses ergueram cidades completas, com Habitações, Escolas primárias, Liceus, Universidades, Hospitais, Quarteis e Redes de água e esgotos, com implicação na melhoria da qualidade de vida de muitos indígenas. Construiram Pontes, Viadutos, Grandes Barragens, Estradas, Caminhos de Ferro, Portos de Mar, Aeroportos... Ofereceram às jovens nações fronteiras delimitadas e uma língua comum... A cada colónia deu Portugal uma Nação”. 

Agora, pergunto: Quando das acções heroicas/assassinas de Marcelino da Mata qual era a sua nacionalidade? Se não podia ser outra coisa senão “português” ou apátrida, porquê este alarido, este aproveitamento vesgo da morte de Marcelino da Mata para, mais uma vez, denegrirem a História de Portugal ? Não são cometidos e desculpados crimes horríveis em todas as guerras, por ambos os lados dos combatentes? Ao menos não confessem que são tão racistas que acreditam que é a raça, a cor da pele, que determina a nacionalidade. 

Nasci em 1928, ano em que Salazar entrou para o governo. Em 1940, já ouvia a BBC e lia no Século as notícias da Guerra. Os bombardeamentos dos alemães à Inglaterra devem ter sido a razão primeira porque, desde então, torci pelos “Aliados”. Não havia, em Portugal, “direitas” nem “esquerdas” mas “democratas” e “nacionalistas”. Estes, apoiavam o governo, que, não escondendo a simpatia pelo regime italiano, também não renegou a nossa aliança com a Inglaterra o que permitiu ficarmos neutrais. Os democratas, por definição, eram contra a ditadura do Estado Novo. Fiquei democrata. 

Quando os americanos lançaram as bombas atómicas fiquei horrorizado, pacifista e menos admirador dos americanos. Quando começaram os massacres em Angola,fiquei receoso de que a guerra durasse tanto tempo que vitimasse o nosso filho mais velho.

Terão sido os dirigentes “pretos”, ajudados por russos, cubanos, e americanos,(mais interessados no petróleo angolano do que na felicidade dos povos de Angola), a iniciarem a revolução e os massacres dos “brancos” para os obrigar a fugir. Em Portugal, os democratas da oposição a Salazar tinham-se definido em democratas e comunistas. A maioria dos democratas concordava com o “império colonial”, mas em democracia. Eu continuei a ser democrata...

Depois, as independências apressadas vieram mostrar a realidade. Diversas etnias, com línguas diferentes e diversas religiões, sem fronteiras estáveis, sem elites cultas, as independências não resultaram em maior felicidade, nem para os brancos nem para os pretos angolanos. 

Hoje, muitos dos Portugueses, brancos, mulatos, pretos e amarelos que reagiram entusiástica e candidamente ao 25 de Abril sentem-se enganados pelas promessas não cumpridas e mentiras propaladas, ou indignados por verem crescer a corrupção, o compadrio, o crime, a falta de vergonha, a ineficácia dos serviços públicos, a insegurança. Alguns fazem comparações entre o que Salazar e os seus ministros construiram em 40 anos e o que foi feito em Portugal nos 40 anos depois do 25 de Abril. Muitos são serenos porque velhos, outros andam entretidos com os futebois, as telenovelas ou nos mexericos das nets e já não se lembram de que o voto é a arma do povo. Vão engrossando o partido “Abstenção”, que parece já ter maioria absoluta. Eu ainda me indigno. Julgava que a “esquerda” era inferior à “direita” a governar, mas superior à “direita” em propaganda, enganei-me. Pelo menos há uma certa “esquerda” que convive mal com a verdade e já não convence a maior parte dos Portugueses.

Só quem esteja a dormir se pode admirar de alguém, (tido como “perigoso por ser inteligente”), se aproveitar da situação actual para vir “acordar a malta” aos berros: Chega!

 

 

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