Patrícia, nome fictício, 33 anos, é um dos exemplos cuja vida levou uma volta de 180 graus desde o início da pandemia: “Trabalhava num hotel em Lisboa e fiquei desempregada no dia 15 de Março de 2020”, logo no início da pandemia. Arranjou outro emprego, outra vez num hotel que se preparava para abrir, “mas ao fim de um mês ficaram só com duas das nove empregadas”, lamenta.
Com dois filhos nos braços, de 2 e 9 anos, não deitou a toalha ao chão: “Consegui trabalho num clube desportivo em Campo de Ourique, mas em Dezembro fui novamente despedida”. A justificação dada pelo patrão deixou Patrícia sem argumentos: “Éramos três e ele salvou o posto de trabalho da pessoa mais velha porque seria mais complicado para ela arranjar outro emprego”. Também o companheiro, por causa da pandemia, ficou sem ocupação. Trabalhava numa empresa de eventos e agora “faz o que aparece, sobretudo biscates na construção civil, mas não é regular”, desabafa.
Perante este cenário de quebra gritante de rendimentos, não restou outra opção além de abandonarem a casa onde viviam, na Reboleira (Amadora), e mudarem-se para a Margem Sul: “Vivo num anexo e pago uma renda simbólica”, explica. Simbólica para o que são as rendas na Área Metropolitana de Lisboa porque, ainda assim, leva-lhe 150 euros de um orçamento só por si muito apertado: “Vivo com cerca de duzentos euros por mês”, provenientes de abono.
Com esse dinheiro tem de pagar renda, água, luz, gás e garantir que os filhos não passam fome: “Graças a Deus ainda não passei fome, nunca faltou um pacote de leite aos meus filhos”, reconhecendo que isso se deve à generosidade alheia: “Há pessoas que gostam de mim e vão-me ajudando”. No Natal a Ajuda Bebés e Famílias Associação ofereceu algum conforto doando um cabaz de bens alimentares.
O altruísmo tem sido, de facto, a mão que ampara a vida de muitas pessoas. Patrícia fala-nos de “uma senhora que me ajuda muito” e lhe abre portas: “Vou buscar peixe e legumes a uma Igreja aqui perto”, o que garante produtos frescos de vez em quando no anexo onde a família dorme. “Quando mais precisamos corremos atrás”, garante.
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