Henrique M. Oliveira é Matemático, Professor e Investigador na área de sistemas dinâmicos no Instituto Superior Técnico, e não tem dúvidas de que os decisores políticos não compreenderam o fenómeno do vírus no Natal. Não acredita numa vaga forte no verão, mas defende rigor no desconfinamento e intensificação da vacinação.
O Governo demorou muito a reagir no início de Janeiro perante os dados que já existiam?
Demorou imenso. O aumento de incidência no início de Janeiro era brutal e o número de mortos começou a crescer muito depressa. A 6 de Janeiro anunciam uma reunião no Infarmed que se realiza no dia 12, resolvem fazer o confinamento a 15 e só a 22 de Janeiro entramos em confinamento geral com as escolas encerradas. Passaram duas semanas, todos os sinais de alarme deviam ter disparado a 6 de Janeiro quando há 10 mil casos.
Como é que se prevenia essa situação?
Deveríamos ter fechado totalmente, como a Alemanha fez, e foram inteligentes. A Merkel quase chorou no Parlamento quando disse que não podia permitir as celebrações de Natal. E nós devíamos ter feito isso. Se não houvesse contacto entre as pessoas o frio não fazia nada. E depois dever-se-ia ter fechado as escolas até dia 6 de Janeiro para tentar reduzir os níveis elevados de incidência com que estávamos em Dezembro. A 19 de Dezembro estávamos com um Rt [Índice de Transmissibilidade, ou seja, um indicador de quantas pessoas um determinado indivíduo pode infectar] abaixo de 1. Perdemos uma oportunidade de ouro para quase extinguir a pandemia e chegar a Janeiro com muitos poucos casos, que é o mês mais perigoso. Claro que em Janeiro haveria sempre um aumento, pelas condições que já referi, mas seria perfeitamente controlável. Houve uma falta de compreensão muito grande do fenómeno. E foi de todos os partidos que reuniram com o Presidente da República nas vésperas de Natal e saíram todos contentes. Todos os partidos aprovaram a ideia de que se deveria abrir no Natal, ninguém entendeu a natureza deste fenómeno.
O plano apresentado parece-lhe fazer sentido?
Parece-me que abriu demasiado depressa. Deveria ter começado a desconfinar no dia 22 de Março e não no dia 15 de Março. Teria feito cinco etapas em que as escolas do 1º Ciclo só reabririam depois da Páscoa. Mas, no geral, parece-me relativamente prudente. Ao mesmo tempo garantia que a vacinação não sofria atrasos, porque o desconfinamento tem de ser pensado simultaneamente com uma massiva vacinação.
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