Apeteceu-me escrever sobre muitos temas nesta crónica. Há em mim uma constante inquietação que teima em não entender muitas das injustiças que preenchem os nossos dias. Ao mesmo tempo, penso que precisamos cada vez mais de valorizar a empatia. Por isso, decidi reservar este espaço para assinalar vários temas, balanceados por vários estados de espírito: Vergonha, Loucura, Amor e Gratidão.
Vergonha. O que se passa em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, deveria fazer-nos corar de vergonha. Não só pela tragédia que aquelas pessoas vivem, mas também pela forma como fechamos os olhos. Estamos a assumir, sem complexos, que há um mundo para brancos e outro para pretos. E isto não se trata apenas de uma questão racial, mas também de poder, de hierarquia, e das diferenças que cultivamos entre estes dois mundos.
Loucura. Começa a ser um exercício sem sentido tentar compreender as pessoas que se apoiam em teorias da conspiração idiotas para contestarem o que é feito e o que fica por fazer. Reclamam que os que já lideram o mundo criaram a pandemia para liderar o mundo. Entendo que este é um tema difícil para alguém que tem os seus rendimentos limitados há mais de um ano, mas a loucura tem de ter limites quando se perde a racionalidade. Depois do inverno que passámos, ver três mil pessoas reunidas em nome da insanidade e sem qualquer punição é, no mínimo, revoltante.
Amor. Dedico-me, dentro do possível, à causa animal. E uma das críticas que mais leio, vindas daqueles heróis que nunca levantam o rabo do sofá, é que “andam a ajudar animais mas se virem o vizinho a precisar de ajuda viram a cara”. Claro que isto é apenas o reflexo de quem escreve, porque as pessoas tendem a ver o mundo à sua medida. Pela experiência que tenho, sei que é exactamente ao contrário. Nunca recusei um pedaço de pão a quem me o pediu. E, se dúvidas houvessem sobre o amor que move o coração dos voluntários, leiam a história da Susana Estriga e da Anabela nesta edição.
Gratidão. A entrevista que fiz a Catarina Salgueiro Maia foi das experiências mais bonitas que a curta vida de jornalista me ofereceu. Pela conversa com uma mulher inteligente, fiel aos seus princípios e defensora da liberdade. Mas, também, pelo legado que para mim representa. Só de escrever o apelido arrepio-me. Obrigado, Catarina. Obrigado, Capitão. Meu Capitão.