Home »
04 MAI 2021
"O Primeiro 1º de Maio: o Dia em Que o Povo Foi Mais Unido"
Por Jornal Abarca
Uma semana após a Revolução dos Cravos, o povo saiu à rua para celebrar o Dia do Trabalhador, numa prova de união com uma magnitude que não haveria de repetir-se. Soares e Cunhal, regressados do exílio, estiveram juntos numa manifestação pela primeira vez. E última.
 
Há datas poéticas impossíveis de esquecer na história da democracia portuguesa. À cabeça, claro, o 25 de Abril, que devolveu a liberdade ao povo. Nesta edição do abarca Carmelinda Pereira evoca a libertação dos presos políticos de Caxias, um dia após a revolução, como um momento impossível de esquecer. O 1º de Maio de 1974 entra, sem dúvida, no lote dessas datas inesquecíveis.
 
Nesse dia o povo saiu à rua como nunca tinha saído, e como jamais haveria de fazê-lo. O mar de gente que invadiu as ruas de Lisboa, e encheu o estádio 1º de Maio, em Alvalade, tornou o momento numa verdadeira loucura. O povo, sedento de liberdade, queria ser ouvido. Mário Soares e Álvaro Cunhal estiveram juntos nesse dia, mas pela primeira e única vez.
 
Perante uma multidão agitada, Soares discursa: “Camaradas, em 25 de abril as Forças Armadas destituíram o governo fascista e colonialista de Marcello Caetano. Mas foi hoje, foi aqui que nós destruímos o fascismo”. Soares saudou Cunhal e lembrou as vítimas do fascismo, mas acautelou: “O fascismo foi vencido. Mas as bases sociais de suporte do fascismo continuam intactas”. Hoje, mais do que nunca.
 
Aquele momento, de união entre a esquerda política, e de comunhão entre os líderes e o povo, poderá ser visto à distância do tempo, como o princípio de uma história de desavenças e separação: nunca mais aquele espírito de união e convergência se haveria de registar.
 
O feriado que nunca deixou de ser comemorado
Se Abril abriu o caminho da liberdade a um Portugal vincado pela ditadura, a grande data da luta operária será sempre o 1º de Maio. Antes durante o Estado Novo, a data já era comemorada um pouco por todo o país, ainda que a celebração fosse reprimida pela polícia.
 
No Tramagal, terra com um cariz vincadamente operário, Eduardo Duarte Ferreira saiu pela primeira vez à rua com a Sociedade Artística Tramagalense [SAT] a 1 de Maio de 1902 e nada faria parar as suas intenções de comemorar a data, nem a ditadura. Feriado na Metalúrgica Duarte Ferreira [MDF], o 1º de Maio era um dia de festa, “Havia o almoço com os trabalhadores e ia tudo ao campo ver o jogo de futebol, porque TSU [Tramagal Sport União] estava na segunda nacional”, recordou José Madeira, antigo trabalhador da MDF, ao abarca em 2018. Nesse dia costumava também dar se “uma demonstração de viaturas militares e a malta ia assistir”. Apesar da realização da “festa proibida”, nunca houve qualquer tipo de punição para a MDF ou os seus proprietários.
 
Em Torres Novas, várias indústrias são referenciadas ao longo dos anos por causa das lutas dos seus trabalhadores: Metalúrgica do Nicho, da Costa Nery, Metalúrgia da Videla, a rodoviária dos Claras ou coisas tão vagas como “os operários duma empresa em Barreira Alva”, como regista a obra “Canções de Liberdade”, editada pela Câmara Municipal de Torres Novas em 1994. Enquanto a ditadura se impunha pela repressão, era no 1º de Maio que a liberdade sobrevivia.
(0) Comentários
Escrever um Comentário
Nome (*)

Email (*) (não será divulgado)

Website

Comentário

Verificação
Autorizo que este comentário seja publicado



Comentários

PUB
crónicas remando
PUB
CONSULTAS ONLINE
Interessa-se pela política local?
 71%     Sim
 29%     Não
( 407 respostas )
© 2011 Jornal Abarca , todos os direitos reservados | Mapa do site | Quem Somos | Estatuto Editorial | Editora | Ficha Técnica | Desenvolvimento e Design