Um episódio de poluição no rio Alviela, datado de 5 de Março, tem feito correr muita tinta, sobretudo porque a 26 de Março foi tornado público que a empresa identificada pela GNR por esse episódio se tratava da Aquanena, empresa municipal criada precisamente para “gestão e exploração dos sistemas públicos de captação e distribuição de água e de drenagem e tratamento de águas residuais”.
Na reunião de câmara de 5 de Abril, a presidente da autarquia e do Conselho de Administração da empresa, Fernanda Asseiceira, informava sobre a criação de “um relatório que relatasse de forma bastante exaustiva tudo o que aconteceu no dia 5 de Março, nomeadamente o que aconteceu no dia 4 de Março [incêndio na Prodyalca], com a possibilidade de estar associado, para remeter de imediato à GNR e à IGAMAOT”, sugerindo uma ligação entre o incêndio na empresa Prodyalca, a 4 de Março, ou seja, no dia anterior ao episódio de poluição, e o aparecimento de espuma no rio.
A 14 de Abril, a Aquanena torna público um comunicado na linha das declarações de Fernanda Asseiceira na reunião de câmara mencionada, em que informava que no dia 5 de Março foi “recolhida uma amostra na ribeira do Vale da Teiça, um curso de água que fica junto à unidade de produção de químicos (Prodyalca) que tinha sofrido um incêndio no dia anterior, a 4 de março, e no qual foi utilizada uma grande quantidade de agente espumífero para o seu combate”, voltando aqui a surgir a narrativa da possibilidade de os dois episódios estarem relacionados.
Contudo, antes de todas estas declarações e antes de se saber que era a Aquanena a empresa identificada pela GNR, na reunião de câmara de 15 de Março, o vereador Hugo Santarém, que acompanhou a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) em diligências efectuadas no dia 5 de Março, foi categórico: “Aquilo que pode ser confirmado é que existiu uma ocorrência de espuma que viria até da Ribeira dos Amiais, por isso há esse registo de, na própria praia fluvial, no dia 5 [de Março] existir espuma que vinha da Ribeira dos Amiais. Por isso, muito sinceramente, não há uma relação que ligue a ocorrência do incêndio à questão do episódio de espuma no rio Alviela”.
Hugo Santarém confirmou que “houve identificação por parte da APA (...) de águas pluviais que fizeram o atravessamento da área do incêndio [na Prodyalca] e estavam a escorrer para a linha de água que passa junto da fábrica e havia efectivamente alguma espuma na linha de água, mas de forma muito residual e muito contida. Apenas se vislumbrava espuma nas imediações da fábrica, não se vislumbrando nenhum tipo de espuma ao longo do curso de água”.
O vereador informou também que numa acção concertada entre a APA, a Protecção Civil e a Aquanena, foi criada “uma bacia de retenção à linha de água”, para as águas ficarem lá contidas, e foi efectuado “o desvio da linha de água pluvial, no logradouro da fábrica, para o cais, ou seja, uma área totalmente impermeabilizada”. Acrescentou que na segunda-feira seguinte ao incêndio, dia 8 de Março, se fizeram “análises às aguas” da bacia de retenção, verificando-se que “não representavam poluição excessiva”.
Estas declarações de Hugo Santarém surgiram precisamente em resposta a Fernanda Asseiceira que frisava “uma intensa pluviosidade” após o incêndio que fez "encaminhar águas para uma linha de água contígua”. Foi quando a autarca passou a palavra ao vereador para este “explicar melhor o que aconteceu e a associação que houve a esta ocorrência no rio Alviela no dia seguinte [ao incêndio]”, que Hugo Santarém afirmou categoricamente não existir uma relação entre o incêndio e a espuma que se vislumbrou no dia seguinte no rio Alviela.
Apesar disso, essa associação entre os dois acontecimentos continuou a ser sugerida por Fernanda Asseiceira em explicações posteriores a 27 de Março, data em que teve conhecimento que a empresa identificada pela episódio de poluição era a Aquanena.