Acompanho com interesse e prazer o trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos, nomeadamente, as temáticas acompanhadas pelos números / estatísticas que vai publicando.
No presente mês de Abril e a propósito do tema pobreza, fui surpreendida não só pelos números, bem como, a certeza que a sua grandiosidade não tem aceitação numa democracia às portas de completar meio século.
Escuto, frequentemente, os politólogos comentarem a juventude da nossa democracia. Sim, tem “meia dúzia de anos” comparativamente com a antiquíssima democracia parlamentar inglesa do século XVII ou a francesa do século XVIII. Contudo, e permitam-me, caramba! Obrigatoriamente deveríamos ter feito mais e melhor. Sobretudo com duas características a facilitarem-nos a tarefa: território geográfico pequeno e população diminuta.
Assim, ou, posto isto, como dizem políticos e comentadores frase sim, frase sim, segundo o estudo do Professor Fernando Diogo daquela fundação, a nossa pobreza não só é estrutural como a fatia grossa corresponde a trabalhadores não precários. Ou seja, dos nossos pobres 13% são desempregados, 26.6% precários e 27.5% reformados.
Ora voltemos à fatia grossa e que corresponde a 32.9%!!!
Numa democracia este dado como indicador é avassalador. Como explicar que a percentagem maioritária seja composta por trabalhadores no activo, com vínculos laborais de 10 a 20 anos?
Significa que ter trabalho não é a garantia para sair da pobreza e que 20 euros (que parece pouco) numa família pode fazer toda a diferença.
Eu sabia que Portugal é um país pobre. Todos sabemos. Mas fiquei surpreendida com os 32.9% corresponder àquelas pessoas com quem cruzamos todos os dias e podem trabalhar ao nosso lado.
A pobreza anda de mãos dadas com menor escolaridade, menos oportunidades e empregos piores. Logo, reprodução do mesmo ciclo de pobreza e maior dependência dos outros. E como é perigosa a dependência dos outros! Ainda que a pobreza possa ser uma má companhia para a democracia, nunca deveremos esquecer que foi esta que nos abriu a porta para a liberdade e como escreveu Eduardo Loureço “A liberdade é a forma normal de respirarmos”.