Nunca em toda a minha vida pensei não poder celebrar o 25 de Abril. Este ano, esta data celebrei-a de uma outra forma, escapei-me de carro da fronteira da Bélgica para a Holanda enquanto escutava com os meus amigos fados da Amália e da Mariza.
O fado parece agora adequar-se mais a esta celebração do que as músicas de Carlos Paredes, porque em todo o lado existe este usurpamento silêncioso da liberdade em nome do covid-19.
Para além de não podermos mais socializar de uma forma natural: falar com as pessoas sem máscaras, falar com os outros que usualmente não são do nosso círculo ou família, nós temos de esperar ainda mais nos serviços... fazemos marcações para ficarmos em fila ou esperarmos na linha telefónica que nos foi dada e que parece nunca estar disponível... O país todo está a retroceder a uma velocidade vertiginosa, as crianças na escola talvez estejam a ser digitalmente educadas mas eu pergunto-me que criança dessas vai saber o que é “cantar à volta de uma fogueira”, como vão aprender a escrever? A ler, contar correctamente com tantas interrupções por causa de câmaras ou de mau funcionamento de material ou da internet?
Vi uma notícia sobre as crianças carenciadas em Portugal que normalmente gostavam muito de ir à escola porque era lá que tinham acesso à única refeição quente e completa durante o dia... li e fiquei a pensar... e agora que estou na Bélgica é curioso ver este florescer repentido e forte das agências de trabalho para todo o tipo de funcões Da Pfiser, da Jonhoson & Johnson e de outras companhias. Uns a morrerem outros a a erguerem-se como Golias... e a música “andam de noite com pés de veludo” parece ser uma das melodias que me assalta os pensamentos, enquanto também medito sobre o facto de todos os pequenos comerciantes terem fechado as portas a tudo e os gigantes da Starbucks por exemplo ficarem abertos a tempo inteiro nos aeroportos de Bruxelas ou de Sá Carneiro, com ou sem lockdown,... como se esse vírus que por aí anda fosse snob.
Depois há aquela desculpa brejeira do “as pessoas andam confusas” para justificar atrasos e incompetências ou aquela desculpa do preguiçoso que fica em casa não porque quer mas porque o sistema assim o ditou e assim fica fechado em casa, a receber uma miséria a contar as migalhas e aceitar como verdadeiro tudo o que lhe é dito ou tudo o que vê na televisão ou nos media.
Lamento muito a morte do cravo Vermelho, lamento muito esta aceitação patética e infundada de tudo o que nos é dito e de todas as ordens a que somos sujeitos sem sabermos no fundo qual o verdadeiro propósito.
Um dia destes estimado leitor, fuja de casa e não diga a ninguém.