Está a chegar o calor, e as saudades da inocência do mar e da praia também. Ambos são em simultâneo pretexto e argumento para uma evasão até ao oceano, ao rio, aos esteiros, salinas, pisciculturas, e até a moinhos de maré e barcos descarnados - um rol de emoções tão completo que mais parece um fado.
Vindos de Coimbra, chegamos à Figueira da Foz, atravessamos a Ponte Edgar Cardoso, rumo à Gala, a Lavos e a toda a margem esquerda do Rio Mondego, que ali já se fragmentou num complexo estuário onde domina a Ilha da Morraceira. A geometria do local é uma renda tecida por salinas, esteiros, sapais, caniços, tanques de aquacultura, os velhos armazéns negros de madeira que guardavam o sal e o Rio Pranto. (...)
Tenho ainda uma memória dos tempos de petiz, porque foram felizes as emoções sentidas nos verões dos anos sessenta, da labuta de marnotos e salineiras na safra do sal na Ilha da Morraceira e em todo o estuário do Rio Mondego, Lavos e Cova e Gala incluídos. As salineiras, descalças, blusa e saia até abaixo dos joelhos de um branco tão imaculado como o dos cristais de sal que levavam numa cesta à cabeça e que, pela leveza, graciosidade e elegância, quase um ballet, passavam, alinhadas em estreitos corredores entre as salinas, e ninguém se aventuraria a dizer que transportavam mais de 20 quilos daquele “ouro branco” sobre as rodilhas que almofadavam o contacto entre a cabeça, com um lenço à sua volta, e a cesta. (...)
E é necessário ainda falar do Moinho das Doze Pedras, um engenho de marés construído em 1778 ali, onde o Rio Pranto junta as suas águas ao Mondego, e que dantes, com as suas moendas e engenhos usava as marés para as transformar na energia que descascava o arroz e moía o grão em farinha. (...)
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