As imagens de Odemira deram o pontapé de saída numa realidade “com barbas” à frente dos nossos olhos, já cansados de fixar sem ver, de norte a sul do país, mas à qual o tal vírus democrático (não a doença) obrigou a interromper o “processo de cegueira”. Enchemos a boca de adjectivos e espantos, mas à nossa maneira cada um de nós pactua com a exploração daquela gente, quanto mais não seja pelo que finge não ver, omite a denúncia e compra fruta fora da época.
As imagens dos seres humanos que chegaram ao enclave espanhol de Ceuta vencendo o mar com braçadas, ainda que alguns não soubessem nadar, recorrendo a bóias feitas pelas suas mãos com garrafas de plástico - as mesmas mãos com que seguravam os filhos bebés – realçou, mais uma vez, uma Europa dividida. Assumiu posições contrárias quanto ao acolhimento desta gente que foge ao desemprego, à fome e que quanto à vida só tem uma certeza: a Europa é o melhor sítio do mundo para se viver.
As imagens do avião europeu a voar entre duas capitais europeias, com tripulação europeia e passageiros, maioritariamente europeus, a ser aprisionado por um avião militar Bielorrusso, transportou-me ao universo da ficção científica. Onde está a Nato? O desafio não foi só à Europa. Foi também à Nato. A União Europeia lá avançou com sanções que empurraram definitivamente Lukashenko para os braços de Putin. O casamento está consumado mas de qualquer das formas a Bielorrússia já era mesmo um franchising da Rússia.
O argumento tantas vezes utilizado pela União Europeia para justificar comportamentos brandos refugiando-se na falta de um exército comum, não procede. Ausência de exército comum não invalida uma potencial resposta militar em comum. A Europa, por vezes, ou muitas (?) parece aquela gelatina que não nos corre bem.
Por fim, as imagens do histórico conflito Israel/Palestiniano que agudizou nas últimas semanas. A Terra Santa que de santa só tem o nome.
Decidi que neste mês de Junho as minhas palavras tivessem um formato diferente. Não se apresentassem dedicadas a um só tema mas reflectissem imagens televisivas que me marcaram. E porque perante imagens tão chocantes e que reflectem “as veias abertas do mundo”, não entendo quem se escuda no “é por isso que não vejo televisão” (porque nem todos têm acesso às redes sociais) e assobiam “para o lado” como canta o Carlão. Gosto do Carlão. Gosto de assobiar embora a minha avó materna me dissesse para não o fazer pois as meninas não assobiavam. Só os homens.
Mas não é que o mundo tem mesmo muitos lerdos?