Das colheitas de cereal humano mais recentes abunda o joio quando nós precisamos de trigo de alta qualidade, não por acaso António Barreto afirma que a justiça do Estado Novo era mais séria do que a justiça vigente. Dá que pensar a afirmação do sociólogo desde há anos referência moral da Grei (espero não ser acusado pelos patrulheiros do politicamente correcto) de agarrado ao passado histórico pois ceifar e malhar o trigo génese do nosso devir está na moda e dá embalagem aos furiosos amigos do camartelo a destruir o desempenho daqueles que dão (por enquanto) nome a ruas, praças e jardins portugueses.
O beijinho da farinha de trigo (a mais pura) é a base dos folares transmontanos e de várias especialidades doceiras, o beijinho da farinha moral a par do húmus que moldaram o nosso carácter conhecem tempos adversos, impera o facilitismo partidário, o amiguismo corporativo, o princípio do deixa andar, a moleza escapatória dos desmandos económicos e sociais. As culturas hortícolas de Odemira vicejam sorvendo o referido húmus trabalhado pelos camponeses desprovidos de tudo, mulheres e homens vítimas de exploração vampiresca dos novos “negreiros” sem navios e sem chicotes, no reino da tecnologia utilizam-na primorosamente de modo a retirarem lucros altos do amanho desalmado dos campos por que os manuais do marketing explicam o modo de fazerem desaparecer das estatísticas os fugidos a todo o género de opressão.
Só em Odemira perante a passividade das autoridades e o azedume do ministro Cabrita? Claro que não As Vinhas da Ira, (lembram-se?) estão espalhadas por muitos lados e, reparem, reparem no mutismo dos sindicatos, dos partidos da geringonça e autarcas de várias tonalidades partidárias. A maléfica pandemia destapou o pote da peste a atacar os migrantes asiáticos, outros potes fervem ameaçadores, só não vê quem não quer, os fariseus aliados aos Pilatos da burocracia administrativa e política.
Os rapazões da governação prometem tudo a todos, o pobre quando a esmola é grande refugia-se no silêncio, aguarda e cogita a maneira de arrebanhar algumas migalhas caso o pão, mesmo broa ou centeio provenientes da propagandeada bazuca dos muitos milhares de milhões qual cornucópia mitológica.
O joio reduz a qualidade do trigo, sendo barato e, até empregue nos laboratórios de investigação médica, os Homens passaram a utilizá-lo prodigamente em contos do vigário de alto nível, atente-se nos depoimentos dos grandes devedores do “império BES/Novo Banco” em que impera a desfaçatez a avivar-nos a memória relativamente ao recentemente falecido Madoff, após as falcatruas recebeu rápida sentença a condená-lo 150 anos de cadeia passando do esquisito foie gras e do mais sumptuoso champanhe a hambúrgueres de vaca velha e água da torneira prisional num ápice. O joio dos grandes devedores à banca é uma afronta aos bons pagadores de promessas assinadas na altura das transacções, bem como a quem sabe quão custosa é a poupança da migalha a migalha forrando assim um pé-de-meia (curioso o epíteto pé-de-meia) capaz de salvar a honra do devedor e do convento (a sua casa).
A pandemia colocou muito boa gente a comer o pão que o Diabo amassou, outros nem tiveram tal possibilidade, por assim ter acontecido, não tiveram o brioche imputado falsamente à guilhotinada Maria Antonieta, sujeitaram-se a gastarem os dias entre a ameaça da morte ao virar da esquina recebendo o vírus ou a fenecerem de exaustão alimentar, os que sobreviveram estão nos vãos da obscuridade, se tiverem memória enquanto rilham ossos previamente esburgados não esqueçam na hora de votar quem permitiu a rotunda engorda dos tunantes devedores e seus comparsas à esquerda e à direita.
Os terramotos políticos não acontecem só em Madrid.