Não pretendo romantizar absolutamente nada do que acontece há décadas na Palestina. Não tenho esse direito. Mas se há coisa em que acredito profundamente é de que, no final, o amor sempre vence o ódio. Pode levar meses, anos ou décadas, mas o amor vencerá sempre. Já citei Pepe Mujica sobre o tema e acredito profundamente nisto que escrevo.
Para cultivar o amor é preciso empatia. É preciso que nos coloquemos na pele do próximoe responder a uma pergunta tantas vezes posta de lado quando fazemos julgamentos sobre o outro: e se fosse comigo? Costumo olhar para os refugiados que chegam à Europa fugindo da morte, e ao mesmo tempo que ouço discursos de ódio sobre aquelas pobres almas, pergunto: e se fosse comigo? E se fosse a minha mãe? E se fossem os meus filhos?
Ainda criança, no ano de 2000, um dia cheguei a casa vindo da escola para almoçar e ao ver o noticiário ficou-me para sempre gravada a imagem de um homem que, encurralado no meio de fogo cruzado, tentava proteger o corpo do filho, Muhammad al-Durrah, sensivelmente da minha idade, enquanto gesticulavam apavorados implorando para pararem. Não tinham para onde fugir nem onde se esconderem. A criança acabou morta, ali, sem dó nem piedade, no colo do pai. A imagem correu mundo, mas nunca se desvaneceu da minha cabeça. Podia ser eu, podia ser um dos meus. Dói, não dói?
Uma mulher palestiniana, Eman Basher, escreveu há semanasno twitter: “Esta noite, pus as crianças a dormir no nosso quarto. Assim, quando morrermos, morremos juntos e ninguém viverá para chorar a perda do outro”. Dói, não dói?
Ninguém merece viver com a morte como companheira. Nenhuma criança merece que lhe roubem a infância. Nenhuma mãe deveria sentir-se impotente para proteger as suas crianças de balas e bombas de ganância. Nenhuma lágrima, nenhuma gota de sangue deveria ser derramada em nome da loucura dos Homens.
Nada, absolutamente nada, justifica a chacina que a Palestina tem sofrido nos últimos 73 anos. Ninguém, absolutamente ninguém, parece interessado em resolver definitivamente o problema. Em ajudar os mais fracos. E é essa sensação de impunidade, de que os mais fortes podem matar a seu belo prazer sem prestar contas, que está a sufocar não só a Palestina e o seu povo, como um mundo de gente que não consegue fechar os olhos a isto. Não há ética, não há moral, não há humanidade. Onde está a ONU? Onde estão os EUA que atacam meio mundo em nome de uma suposta democracia? Onde está a Rússia tão lesta a intervir (e bem) na Síria? São anos a mais de um povo heróico a resistir de pé, mas abandonado.
De uma coisa eu tenho a certeza: o amor vencerá. Só lamento, profundamente, que numa sociedade tão desenvolvida ainda se adormeça com medo de que uma bomba mate os nossos filhos, rebente os nossos sonhos e dilacere a nossa alma. Pode demorar décadas, mas a Palestina será Livre!