Não sei em que momento me perdi, certamente em algum instante demasiado longo em que deixei de sentir a tua mão e a tua paz em mim.
Continuo sem saber se foste tu que te escondeste bem à minha frente, para me veres perdida no meu mundo míope e turvo. Não sei onde larguei os óculos quando sequei os olhos na tua t-shirt dos Astralis. Sinto o vulto do teu cheiro e uma mão estendida para mim. Sabes sempre onde os deixo, porque sabes que me fazem falta para ver o mundo como ele é, como todos o vêem.
Com a tua mão firme e os teus olhos molhados devolves a visão nítida de quem sabe que não há mais tempo a perder se ainda quiser voltar àquele lado A, meio inocente, meio ousado, livre e descomplicado.
Andei demasiado tempo à chuva, com uma armadura XXS, quase enferrujou... Suportei-a nos dias mais quentes de cólera. Com ela andei, transpirei, caí, levantei-me, corri, sangrei, quase morri e voei. Fui quem não sou só porque alguém disse que não seria capaz...
Nada mais há a provar.
Se há bem pouco tempo quis ser a pedra solta e dura da calçada, testar a lei da física e aliviar esta tensão toda num vidro duplo qualquer ou em alguma cabeça dura, agora é-me suficiente um grito numa praia deserta, para que o mar revolto leve toda a mágoa e dor que carrego e que, sem querer, transferi para as pessoas que mais amo.
Não tenho vergonha de pedir desculpa e digo obrigada a toda a gente. Obrigada às que me puxaram o tapete e me permitiram sentir o chão. E... obrigada mesmo àquelas que estão aqui, à distância de um abraço.