Casei, há 63 anos, para Tramagal, uma aldeia que, no meu sentir e pensar, era exemplo de progresso económico e cultural e de convivência relativamente pacífica entre patrões e trabalhadores na Fábrica, motor do seu desenvolvimento.
Embora nascido em Lisboa, tenho razões para me sentir tramagalense e, como tramagalense, triste. Aqui cresceram os meus filhos, morreu a minha mulher e eu passei de “marido da Senhora Professora” a Sr. Carvalho, num processo nem sempre pacífico porque me julgaram inimigo do futebol e depois, durante o PREC, (“obrigado” a ser militante do PSD), amigo dos patrões. Tinha razões para isso e hoje, com maior número de razões, tomaria a mesma atitude.
Em Tramagal, já não há “exploradores e explorados” mas a paz cheira a cemitério. Cada vez mais envelhecido, Tramagal já não é por ninguém invejado e cada vez menos pessoas sabem o significado do ” MDF” que se pode ainda ver em velhos produtos da Metalúrgica Duarte Ferreira.
Parece que foi ontem, mas os rapazes e raparigas dos primeiros tempos do atletismo já têm cabelos brancos e os netos dificilmente treinarão no que resta da pista para competir, mesmo só a nível regional. Cada vez será mais difícil manter equipas de futebol no TSU, mesmo juvenis, não só porque os encargos serão muito superiores às receitas como também porque cada vez há menos crianças em Tramagal atraídas pelo desporto. Não vou alargar as minhas lamentações às actividades da SAT e do Teatro, para não exagerar no meu pessimismo e porque creio que poderão sobreviver com menos dificuldades.
Mas porquê este rosário de penas?
Por duas razões: a anunciada inauguração de mais um museu na região de Abrantes e o meu pressentimento de que as eleições autárquicas em nada irão modificar o marasmo em que a região de Abrantes tem vivido desde o 25 de Abril.
Aqui, não pode o PS disfarçar a sua incompetência porque, na prática, governou sempre sozinho, o que também reflecte a fraqueza dos outros partidos, embora não possamos esquecer a rede de dependências que os autarcas no poder vão, naturalmente, lançando sobre a população mal informada.
Visitei por duas vezes o museu de Tramagal. O sentimento que me despertou foi, mais do que qualquer outro, o de tristeza. Tristeza e uma revolta mansa. Tal como a região de Abrantes, aquilo de que Tramagal precisava não era um museu, era do aproveitamento urgente e eficaz do espólio da Metalúrgica Duarte Ferreira. Do património físico, mas fundamentalmente dos “conhecimentos” adquiridos pelas centenas dos seus empregados. Não devemos chorar o leite derramado? Talvez... mas que mais pode fazer um velho que nunca foi escutado quando alertou para os perigos do 26 de Abril?
Recordo o que escrevi no primeiro Dia do Trabalhador depois da Revolução.
“E depois do adeus?
Quem vai ser sinceramente humilde para se convencer de que a melhoria da comunidade tem de passar pelo seu próprio aperfeiçoamento?
Quem terá coragem de afirmar que a Revolução ainda está por fazer? E que vai exigir sacrifícios e tempo e uma comunhão de esforços e de objectivos a que não estamoshabituados?
Quem saberá ensinar a um povo politicamente analfabeto o dever de trabalhar com honestidade e o direito de ganhar para viver condignamente?
Quem estará disposto a sacrificar-se pela res publica ?”
Na semana passada, comprei um livro sobre Salazar, escrito por um historiador inglês, para melhor perceber a razão porque escrevi, há pouco tempo, “Dr. Salazar, não desejo que volte, mas por mim está perdoado”. Mereceu a pena a compra. Pude confirmar que a obra feita e deixada pelo Estado Novo, é incomensuravelmente maior do que tudo o que foi feito, em período idêntico, sem estarmos “orgulhosamente sós”, pelos governos democráticos. Principalmente pelos governos do PS, habilidosos na propaganda, mas incompetentes na governação. E não estou pensando só em Sócrates...
Não, não irei votar no Chega, embora ache que tem sido estupidamente maltratado.
Não sou religioso, não gosto de ver o Futebol como rampa de lançamento de políticos, ainda por cima benfiquistas... e defenderei sempre a busca da verdade através do debate de ideias, o que não pode acontecer com o PS socrático que nos vai desgovernando...
Haja Saúde.